05/03/08

Grindhouse: Death Proof (2007)

Antes de iniciar os meus comentários ao filme convém esclarecer alguns pontos importantes, para que se possa perceber melhor este Grindhouse: Death Proof.

Grindhouse: É um termo americano utilizado para designar uma sala de cinema dedicada apenas a filmes “exploitation” (exploração ou abuso). É também o termo utilizado para descrever o género de filmes aí visionados. As “grindhouses” eram conhecidas pelos seus programas contínuos de filmes de série B, ou baixo orçamento, programas esses que eram usualmente constituídos por uma “double feature”, onde dois (ou até três) filmes eram projectados consecutivamente.

Exploitation film: É um tipo de filme que dispensa a qualidade em detrimento de um baixo orçamento aliado ao apelo dos sentidos mais primitivos do Homem, por intermédio de puro sensacionalismo. Os filmes “exploitation” usam e abusam de sexo, violência gratuita, consumo de substâncias ilícitas, nudez, sangue, monstros, zombies, rebelião e caos puro.

Para informações mais detalhadas sobre o assunto remeto-vos para a Wikipedia (onde me baseei para redigir estas explicações): http://en.wikipedia.org/wiki/Exploitation_film

Agora já podemos concentrar-nos em Grindhouse: Death Proof e perceber melhor os seus objectivos e dinâmicas. “Grindhouse” baseia-se nesses pressupostos e é uma “double feature” que inclui “Death Proof” (“À Prova De Morte” em Portugal) de Quentin Tarantino (“Pulp Fiction”, Reservoir Dogs”, “Kill Bill”) e “Planet Terror” (“Planeta Terror” em Portugal) de Robert Rodriguez (“El Mariachi”, “Desperado”, “From Dusk Till Dawn”), interligados por 4 trailers falsos (os filmes que apresentam não existem na realidade) realizados por Eli Roth (“Hostel”), Rob Zombie (“House Of 1000 Corpses”, “The Devil’s Rejects”), Edgar Wright (“Shaun Of The Dead”) e o próprio Robert Rodriguez.

Infelizmente, e devido a questões financeiras, como sempre, os dois filmes foram separados após se ter verificado uma fraca afluência de público a esta experiência cinematográfica única. Pérolas a porcos, diria eu. Por essa mesma razão, para já apenas tive a oportunidade de ver o primeiro dos dois filmes, “Death Proof” de Quentin Tarantino. Actualmente já está disponível em Portugal o segundo filme, “Planet Terror”, e assim que possível, verei esse também e depois escreverei algumas considerações acerca do mesmo. Quanto aos “fake trailers”, isso já não sei. No DVD de aluguer de “Death Proof” não vêm incluídos. Não sei se estarão no DVD de venda ou no de “Planet Terror” (aluguer ou venda). Tenho de verificar isso. Aguarda-se, no entanto, uma edição em DVD da ideia original, com filmes e trailers em sequência.

Em “Death Proof” temos o psicopata Stuntman Mike (Kurt Russell), um ex-duplo de Hollywood que persegue e mata mulheres com o seu carro “à prova de morte”. O filme está dividido em duas partes. A primeira parte da acção desenrola-se em Austin, Texas e tem uma atmosfera muito 70s (a roupa, a música, a fotografia do filme, etc) em contraste com alguma tecnologia actual (telemóveis topo de gama). Demora imenso a desenvolver, tendo apenas como pontos de interesse as falhas de imagem, som e edição, juntamente com algum sexploitation (sem nudez, um certo tabu para Tarantino, mas Vanessa Ferlito e Sydney Poitier conseguem ser extremamente sensuais). Um grupo de raparigas constituído por Jungle Julia (Sydney Tamiia Poitier), Arlene (Vanessa Ferlito) e Shanna (Jordan Ladd) estão num bar, a beber uns copos com uns amigos, antes de partir para um fim-de-semana numa casa de campo. Fazem ainda parte desta primeira metade do filme o próprio Tarantino, como Warren o dono do bar, Eli Roth no papel de Dov, um dos amigos das raparigas e Rose McGowan interpretando uma hippie chamada Pam. Depois de cerca de ¾ de hora algo aborrecidos, a não ser pela já referida vertente visual e o tributo aos filmes exploitation, passamos à acção propriamente dita. É pouca coisa. Passa-se rápido demais. Mas é brutal.
Passamos à segunda parte. Depois de um início com imagem a branco e preto, voltamos a ter cor. Ambiente algo 80s (a imagem é “melhor” que na primeira parte, as referências a filmes dos 80s como “Pretty In Pink” de John Hughes, etc) em contraste, mais uma vez, com tecnologia actual (os ATM, ou Multibancos em Portugal). Encontramo-nos no Tennessee, onde Mike escolhe outro grupo de raparigas, que se irão revelar mais duras e vingativas que as anteriores. Abernathy (Rosario Dawson), Lee (Mary Elizabeth Winstead), Kim (Tracie Thoms) e Zoe (Zoe Bell) são as raparigas que constituem este segundo alvo de Stuntman Mike. Mais diálogo aborrecido. Prolonga-se por tempo indeterminado até ao êxtase do filme, uma perseguição de carro a alta velocidade. O pormenor de Zoe estar pendurada no capote do carro durante a perseguição arrepiou-me completamente. Imaginei-me no lugar dela e tive um arrepio na espinha durante metade da perseguição. Os papéis invertem-se. E mais não digo para não arruinar o vosso visionamento. Mas não gostei muito do final.

O “mau da fita”, o psicopata, é Stuntman Mike, mas acreditem que é dele que vão gostar. Vai ser por ele que vão torcer. Não por nenhuma das raparigas. Acreditem que estas raparigas conseguem mexer com os nervos de qualquer um. Pelo menos com os meus conseguiram. Bom, a verdade seja dita, simpatizei com a Arlene, do primeiro grupo. Mas foi a única. Talvez fosse essa a intenção de Tarantino com os longos diálogos das raparigas. De fazer com que nós próprios quiséssemos estar na pele de Stuntman Mike. De pegar no carro e querer ir atrás das raparigas.

Edição com erros, imagem com grão, imagens a branco e preto, histórias simples, violência extrema, blaxploitation, sexploitation, brutais acidentes de carro, tudo faz parte de “Death Proof”, numa homenagem aos já referidos filmes exploitation dos 70s. As já habituais longas sequências de diálogo sobre assuntos mais que mundanos e que não levam a lado algum, imagem de marca de Tarantino, também fazem parte deste novo trabalho. No entanto, estão uns furos abaixo daquilo a que tivemos oportunidade de assistir em “Pulp Fiction” ou “Reservoir Dogs” (“Cães Danados” em Portugal). Apenas quando entra Kurt Russell em cena é que as coisas começam a tornar-se deveras interessantes. O homem já não tem que dar provas do seu talento a ninguém mas, se dúvidas subsistiam ainda, estão agora desvanecidas pois a sua interpretação em “Death Proof” está sublime, e não consigo pensar em Stuntman Mike interpretado por outra pessoa qualquer. Fantástico. Aliás, as melhores cenas de “Death Proof” são todas as que incluem Kurt Russell, resultando tudo o resto num mero desfilar de diálogos aborrecidíssimos, sem qualquer interesse. Cortando algumas dessas cenas e deixando o filme um pouco mais curto, o resultado final seria muito mais satisfatório.

Há imensos pormenores que eu detestei e imensos que eu adorei e acho geniais. De qualquer modo, o filme mexeu comigo de diversos modos. Vi o filme ontem à noite e ainda hoje estou cheio de adrenalina. A odiar ainda mais as cenas de diálogo. A gostar ainda mais das cenas de carro. A exaltar ainda mais a interpretação de Kurt Russell. Depois de ler algumas opiniões na internet, verifiquei que este é o tipo de filme que tem reacções extremas, de amor e ódio. Há quem pense que é uma obra-prima e há quem pense que é uma completa m***a! E isso é muito importante num filme, que consiga criar este tipo de reacções extremas, fortes e duradouras nas pessoas!

Pontuação: 70%. Mas sujeita a alterações após o visionamento de “Planet Terror” (já vi o trailer e promete) e dos “fake trailers”.
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt1028528/

Sem comentários:

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