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29/10/08

Masters Of Horror (2005)

Já aqui falei nesta série de TV Norte-Americana, a propósito de “Imprint” do Japonês Takashi Miike. Esse episódio levou-me a ir procurar a série na sua totalidade. Neste momento estou a visualizar a primeira temporada e, para já, deparei-me com um episódio fraquito, um assim-assim e dois fantásticos. Mas vamos aos poucos e, numa primeira descrição, retrato a série em si. Mick Garris criou a série “Masters Of Horror” para o canal de TV por cabo Norte-Americano Showtime. Duas temporadas, de 13 episódios cada, foram produzidas e exibidas. Cada episódio foi realizado por um nome sonante do cinema de terror / suspense. Depois desta série, outra no mesmo formato, mas na área da ficção científica teve lugar: “Masters Of Science Fiction”. Foram apenas 6 episódios (dois deles não foram exibidos). “Fear Itself”, também na linha de terror, teve estreia no Verão de 2008. “Masters Of Italian Horror” (esta promete) está em fase de produção.
Abaixo descrevo os 4 episódios que já tive a oportunidade de ver. RDS
Website Oficial: http://www.mastersofhorror.net/
Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Masters_of_Horror
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0448190

EP01 - “Incident On And Off A Mountain Road” (Don Coscarelli; série “Phantasm”, “The Beatmaster”, “Bubba Ho-Tep”):Enquanto conduz de noite, numa estrada solitária, pelo meio das montanhas, Ellen distrai-se com o auto-rádio e embate num carro estacionado. Esta procura ajuda porque o seu carro não pega de novo. Infelizmente, depara-se com Moonface, um enorme homem desfigurado que colecciona corpos humanos, a puxar o corpo de uma jovem. Ellen é raptada por Moonface, mas consegue escapar e retaliar contra o monstruoso psicopata.
Esta história é-vos conhecida? Pois claro, esta narrativa apresenta quase todos os “slashers” Norte-Americanos que foram feitos desde a década de 70 até aos nossos dias. Está bem feito, mas é demasiado cliché para o seu bem. O acidente de carro na montanha / floresta, o psicopata deformado, o desespero e luta da(s) pessoa(s) raptada(s) para conseguir fugir. Passo a passo, peça a peça, Don Coscarelli reconstrói o tipico “slasher” “made-in-USA”. Apenas para os fãs “diehard” do género. 55%
Wikipedia:
http://en.wikipedia.org/wiki/Incident_On_and_Off_a_Mountain_Road
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0643107/
Don Coscarelli (Wikipedia): http://en.wikipedia.org/wiki/Don_Coscarelli
Don Coscarelli (IMDB): http://www.imdb.com/name/nm0181741/




EP02 – “H. P. Lovecraft's Dreams In The Witch-House” (Stuart Gordon; “Re-Animator”, “The Beyond”):
O estudante Walter Gilman aluga um quarto numa verdadeira pocilga. Este está a escrever a sua tese de graduação sobre dimensões paralelas e outros pressupostos metafísicos. Mas o quarto onde este dorme está, supostamente, amaldiçoado. Noite após noite, este começa a ter sonhos bizarros com um rato com cara humana, uma bruxa demoníaca e uma porta para outra dimensão. A bruxa pede-lhe para este praticar um ritual ocultista e sacrificar um bebé. A vizinha do quarto ao lado, com quem Walter está a começar a ter uma boa relação, é mãe solteira e tem um filho bebé. Walter começa a definhar e a certo ponto já não sabe qual é a realidade e a fantasia.
Quando pensei que a série iria enveredar pelos mesmos caminhos do 1º episódio, eis que me surge esta obra-prima baseada numa obra do genial Lovecraft e realizada por Stuart Gordon. Bizarro, psicadélico a momentos, perturbador, genial. Uma excelente adaptação do mundo bizarro de Lovecraft e, quem já leu algumas das suas obras, irá com certeza concordar comigo. Muito bom. Fez-me continuar a ver a série. 90%
Wikipedia:
http://en.wikipedia.org/wiki/H._P._Lovecraft%27s_Dreams_in_the_Witch-House
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0643104/
Stuart Gordon (Wikipedia): http://en.wikipedia.org/wiki/Stuart_Gordon
Stuart Gordon (IMDB): http://www.imdb.com/name/nm0002340/
EP03 – “Dance Of The Dead” (Tobe Hooper; “The Texas Chainsaw Masacre”, “Poltergeist”, “The Mangler”):
Encontramo-nos nuns USA pós-apocalípticos. A população foi dizimada por um ataque nuclear terrorista. A maior parte dos seres humanos ficou desfigurada, com a carne putrefacta. A sociedade está num estado de caos permanente. Uma jovem chamada Peggy vive com a sua mãe, dona de um snack-bar. Peggy envolve-se com um jovem motociclista viciado em drogas e o seu grupo de amigos. Contra os protestos da mãe, esta vai com o grupo para o seu local de eleição, um clube nocturno chamado Dorm Room. Ali, o mestre-de-cerimónias (o grande Robert “Nightmare On Elm Street” Englund) apresenta um mórbido espectáculo em que corpos reavivados por intermédio descargas eléctricas e injecções de drogas experimentais têm espasmos a que chamam “dança da morte”. Peggy vai reconhecer uma das pessoas em palco e, consequentemente, vai ficar a conhecer um segredo nada agradável.
Não é uma história originalíssima mas está bem feita e convence. Se estivéssemos a falar de um filme de longa duração, a coisa poderia ser melhor explorada, ou então, arrastar-se-ia demais para o seu próprio bem. Para media metragem, está muito bem e cumpre o seu papel. E uma participação de Robert Englund dá sempre aquele toque de bizarria e esquisitice que agrada aos fãs de terror. A banda sonora é da responsabilidade de Billy Corgan (Smashing Pumpkins) e é o melhorzito que este senhor fez desde a dissolução dos Pumpkins. Gostei mas não penso que vá ver de novo num futuro próximo. 70%
Wikipedia:
http://en.wikipedia.org/wiki/Dance_of_the_Dead_(Masters_of_Horror_episode)
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0643102/
Tobe Hooper (Wikipedia): http://en.wikipedia.org/wiki/Tobe_Hooper
Tobe Hooper (IMDB): http://www.imdb.com/name/nm0001361/


EP04 – “Jenifer” (Dario Argento; “Profondo Rosso”, “Suspiria”, “Phenomena”):Dois polícias dentro do carro patrulha, estacionado num local afastado, apreciam o seu almoço. O Detective Frank Spivey sai do carro para fumar um cigarro e vê um homem a arrastar uma jovem. Frank chega mesmo a tempo de impedir o homem de cortar a cabeça da jovem com um cutelo, alvejando o homem mortalmente. Mas antes de morrer, este ainda consegue dizer: “Jenifer”. Este tenta a ajudar a rapariga a levantar-se e repara que esta está terrivelmente desfigurada na face, não fala, e tem um certo atraso mental. Jenifer vai para um hospital psiquiátrico mas o detective tem pena dela e leva-a para casa, mesmo contra a vontade da sua esposa. Depois de Jenifer matar e comer o cão da família, a esposa de Frank sai de casa com o filho. Frank começa a ficar obcecado com a rapariga de uma forma pouco saudável. A relação torna-se física. Até que algo de mais grave acontece. Este foge com a rapariga para uma cabana nas montanhas. Mas as coisas não vão acalmar.
A maior parte das críticas que li sobre esta primeira participação do mestre Argento na série não foram muito favoráveis. Não sei porquê. Este é o melhor episódio que vi até agora. Intenso, perturbador (Jenifer é verdadeiramente perturbadora, excelente caracterização), pleno de suspense (Argento é exímio em criar ambiente pesados), muito Gore (é até demasiado Gore para o habitual de Argento, não que eu me esteja a queixar, mas não é o estilo do mestre Italiano). E a cereja no cimo do bolo é mesmo a banda sonora de Claudio Simonetti (ex-Goblin), colaborador assíduo de Argento. Fantástico. Espero encontrar mais episódios assim. 90%
Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Jenifer_(Masters_of_Horror_episode)
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0643108/
Dario Argento (Wikipedia): http://en.wikipedia.org/wiki/Dario_Argento
Dario Argento (IMDB): http://www.imdb.com/name/nm0000783/

21/10/08

Planet Terror (2007)

Já vi este filme há algum tempo mas ainda não tinha tido tempo de escrever umas palavras sobre o mesmo. Nos primórdios deste blog, escrevi uma pequena apreciação sobre “Death Proof” de Tarantino, ficando este, assim como os “fake trailers” de “Grindhouse”, para mais tarde. Os cinéfilos mais calejados já devem saber que a ideia por detrás de “Grindhouse” não é nem original nem arrojada. Mas talvez não fosse essa a ideia de Tarantino e Rodriguez. Já sabemos que quase todos os filmes de Tarantino são influência directa e/ou tributo a filmes e géneros perdidos no tempo (“Jackie Brown”, “Kill Bill”, etc). Bom, mas como pouco se faz nesses meandros hoje em dia, este par de filmes é bemvindo. Os filmes (e por arrasto os “fake trailers”) não são originais e ficam até atrás de muitos clássicos do género. Mas passemos então a “Planet Terror”.
A história é um chavão e poderia identificar um qualquer filme de zombies / gore feito nos últimos 30 anos. Um gás experimental é acidentalmente libertado numa base militar do Texas. As pessoas expostas ao gás tornam-se, adivinhem, zombies mutantes sedentos de carne humana. O que se segue é a tentativa se sobrevivência de um grupo de pessoas unidas pelo acaso. Rodriguez busca influência nos filmes de série B e baixo orçamento de zombies, gore, ameaças biológicas, splatter e outros que tais. Muita acção, sangue, tripas, bizarria, humor ora negro ora absurdo (típico série B), efeitos especiais, uma banda sonora a condizer (do próprio Rodriguez). Tudo isto sempre com aquele ar de filme de baixo orçamento, com uma edição paupérrima cheia de falhas, uma fotografia tipo vintage e “falhas” na fita original (tudo elementos propositados, como é evidente). Não é, como já disse, nada de transcendental, e se querem algo “melhor” (daquele género: “tão mau que é bom”), procurem os clássicos. De qualquer maneira, este é muito melhor que o seu par e, tendo em conta o cenário cinematográfico actual, este tipo de aventuras é mais que aplaudido. Diversão garantida. Recomendo. 80%
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Planet Terror - Trailer

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Deixo ainda uma rápida apreciação aos “fake trailers” que acompanhavam “Grindhouse”:
Machete (Robert Rodriguez): Estava a ver que não via o grande Danny Trejo num papel principal. Sem bem que isto é apenas um trailer, embora rumor haja de que Rodriguez filmou cerca de 30 minutos de filme, pretendendo ir em frente com “Machete”. Pelo belo aperitivo, aguardo ansiosamente que isso se concretize. Exploitation do mais puro!
Thanksgiving (Eli Roth): Com o Eli Roth nos comandos, só poderia ser um slasher de contornos Gore do mais brutal. O humor negro constante torna-o divertidíssimo. Gostei muito.
Werewolf Women Of The SS (Rob Zombie): Rob Zombie toma inspiração na trilogia de filmes “Ilsa” e nos filmes de Nazisploitation. Mulheres com peitos generosos, nazis, torturas, e outros que tais, são os ingredientes. Os convidados especiais são de peso: Udo Kier, Bill Moseley, Sybil Danning, Nicolas Cage. Este também daria um excelente filme!
Don’t (Edgar Wright): Mais humor negro, desta feita o responsável é Edgar Wright (“Shaun Of The Dead”). Hilariante! Menos não se poderia esperar de Wright.
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Machete

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Werewolf Women Of The SS / Don't / Thanksgiving

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12/09/08

Kataude Mashin Gâru / The Machine Girl (2008)

Ami Hyuga (Minase Yashiro) é a protagonista desta loucura nipónica (mais uma!). Ela é uma rapariga normal, estuda no liceu, é popular, desportista e cheia de vida. Depois do seu pai ter sido injustamente acusado de homicídio e, junto com a sua mãe, terem cometido suicídio, Ami e o seu irmão Yu (Ryôsuke Kawamura) ficaram órfãos. Ao mesmo tempo que estudam no liceu, estes tentam levar uma vida normal. Mas Yu e um amigo deste são vítimas de abuso (o chamado “bullying”) por parte de um filho de um Yakuza e o seu bando de jovens delinquentes. Até que um dia a coisa chega ao extremo e o bando mata os dois amigos. Ami começa a investigar para saber a verdade sobre quem matou o seu irmão. Esta acaba por ir para a casa dos Kimura onde é torturada e lhe é cortado o braço esquerdo com uma espada ninja. Junto com Miki (Asami), a mãe do outro rapaz assassinado, esta inicia uma vingança brutal.
Muito gore, sangue, membros decepados, tortura, violência extrema, um soutien com perfuradora, espadas ninja, uma arma ninja que arranca cabeças, etc. Um verdadeiro festim para os olhos. Tudo condimentado um humor típico do género, ou seja, um filme que não se leva a sério. Os efeitos especiais são na sua maioria primitivos, mas esse é mesmo o propósito. Ora são pequenos sacos com “sangue” ou mangueiras escondidas na roupa, cortes de imagem para colocar bonecos no lugar dos humanos no “momento da verdade”, etc. Tudo com aquele toque de série B que nós tanto gostamos. Um cheirinho a 70s exploitation (notório na fotografia) e/ou 70s Pinku ajuda ao resultado final. A banda sonora de fusão Rock e orquestral também está fabulosa e contribui para o ambiente geral. A isso adicionem ainda a típica loucura nipónica e temos filme! Para quem gosta de Gore / Splatter, “The Machine Girl” é diversão garantida do início ao fim. Apenas para fãs do género (“Braindead”, “Evil Dead” e outros que tais…). 90%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt1050160/

03/09/08

Akira Kurosawa’s Dreams (1990)

Este não é propriamente um filme com início, meio e fim, mas sim uma antologia de 8 histórias. Estas histórias são baseadas em sonhos do conceituado realizador Akira Kurosawa e, por essa mesma razão, fragmentadas e incompletas, tal como todos os sonhos do comum mortal. Junto com as breves descrições das curtas-metragens irei referenciar alguns aspectos da cultura, folclore e mitologia Japonesas de modo a se compreender melhor cada uma das peças de “Dreams”. Para não arruinar a visualização desta obra de arte a alguém, caso ainda não a tenha visto, não irei fazer uma narrativa e análise extensa de cada um deles, deixando isso para cada um de vós o fazer. Este é um filme que se tem de ver com alguma paciência, espírito crítico e abertura de mente pois as coisas aqui nem sempre são de fácil assimilação e/ou interpretação.

Umas das maiores dificuldades em ver um filme deste género, ou qualquer outro filme de uma cultura completamente diferente da nossa, são a informação cultural e folclórica contida no mesmo. Pormenores que são muito importantes podem passar-nos ao lado. E quando se fala em cinema japonês, essa vertente é acentuada. O Japão já foi apelidado de “Império dos sinais” devido à riqueza da comunicação não verbal, postura física, símbolos, objectos, palavras ou frases encaixadas num determinado contexto, e até o silêncio.

“Sunshine Through The Rain”: uma mãe diz ao filho para não sair de casa num dia de chuva porque, nesse tipo de clima, as raposas celebram os seus casamentos. Estas não gostam que as suas celebrações sejam observadas por estranhos e, se isso acontecer, estes podem ser alvos de um castigo fatal. A estrita educação Japonesa fica retratada neste conto.
Informação: No folclore Japonês há uma espécie de homens raposa que se apelidam de “kitsune”.

“The Peach Orchard”: o mesmo miúdo do conto anterior encontra os espíritos dos pessegueiros que foram cortados pelos homens. Este mostra arrependimento e as árvores decidem florescer mais uma vez para seu deleite. A preocupação de Kurosawa pela natureza e o meio ambiente. Esta encontra-se patente noutros contos desta antologia.
Informação: No Japão, a 3 de Março, há um festival de bonecas chamado “Hinamatsuri” no qual as bonecas são expostas em vários níveis, sendo a boneca Imperatriz colocada no mais alto nível e daí em diante.

“The Blizzard”: um grupo de montanhistas tenta escapar a uma tempestade e, consequentemente, à morte. O líder encoraja-os a continuar e não desistir. Estes acabam por ser salvos por um espírito. Este conto é dos que mais parece demorar a desenvolver, mas isso faz parte do próprio ambiente da situação, a vã tentativa de continuar a lutar contra a tempestade e o sentimento de desespero de quem vê a morte à sua frente. Este sentimento de vaguear e não se conseguir chegar a lado algum é uma característica de muitos sonhos.
Informação: No folclore nipónico existe o Yuki-onna, o qual é um espírito de alguém que morreu no frio ou na neve. O Yuki-onna revela-se a viajantes que se encontram encurralados em tempestades de neve e usa o seu gélido bafo para os deixar congelados. Estes aparecem frequentemente como belas mulheres de cabelos longos.
A tragédia da 5ª Infantaria do Exército Japonês é sobejamente conhecida pelos Japoneses. Durante uma manobra de treino nas montanhas Hakkoda, no Inverno de 1902, cerca de 200 recrutas morreram quando uma tempestade se abateu sobre eles. Apenas alguns sobreviveram.

“The Tunnel”: um capitão encontra os espíritos dos seus subordinados mortos em combate. Estes pensam que ainda estão vivos. Este é talvez o mais intenso de todos os sonhos e o meu favorito.
Informação: No folclore Japonês, quando alguém morre, um “reikon” (ou alma) deixa o corpo e vai para o mundo dos espíritos. Contudo, quando alguém morre em circunstâncias mais agressivas ou influenciada por emoções fortes, o “reikon” transforma-se num “yurei” e volta para o mundo físico.

“Crows”: um estudante de arte entra num quadro de Vincent Van Gogh (interpretado por Martin Scorsese) e encontra-se com o famoso pintor. Juntos percorrem cenários de alguns dos seus quadros.

“Mount Fuji In Red”:
um acidente numa central nuclear casa o pânico na população que acaba por se suicidar no mar. Mais uma vez a preocupação pela Natureza e, em particular, da ameaça nuclear que sempre pairou sobre o país. Outro dos meus favoritos.

“The Weeping Demon”: aqui retrata-se um mundo apocalíptico pós-catástrofe nuclear. Mutações humanas, animais e vegetais povoam a Terra. Não sobra nada do mundo que se conhecia, não há luz, não há quase sinais de vida e, por falta de comida, os mutantes tornam-se canibais, alimentando-se dos mais velhos e fracos. O mesmo homem do sonho anterior encontra aqui um desses mutantes e ambos têm uma conversa filosófica sobre o assunto. Na sequência do sonho anterior.

“Village Of The Watermills”: Um viajante chega a uma vila onde não há comodidades do mundo moderno, não há electricidade, não há carros, os vilãos são unos com a Natureza. Mais uma conversa de teor filosófico entre o viajante e um senhor idoso que se encontra à beira do rio. Outro dos meus favoritos. A mensagem de conservação da Natureza é mais notória neste segmento. É o finalizar de 2 horas de “sonhar acordado”. O encerrar com “chave de ouro” de “Dreams”.

Como disse anteriormente, esta não é uma película de fácil digestão e o espectador tem de se encontrar no estado de espírito certo. Além disso, não sendo obrigatório diga-se já, ter conhecimento de algumas lendas, mitologia, cultura e história do Japão pode ajudar imenso à compreensão de certas ideias. Qualquer pessoa pode apreciar o filme mas, essas informações e conhecimento geral podem ajudar a uma análise mais cuidada e, consequentemente, absorver tudo na sua plenitude e apreciar melhor esta obra de arte. Recomenda-se vivamente! 95%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0100998/
Akira Kurosawa's Deams - Fanmade Trailer

17/05/08

Choyonghan Kajok / The Quiet Family (1998)

A familia Kang (pai, mãe, tio, um filho e duas filhas) compra um alojamento na montanha. Estes aguardam ansiosamente o primeiro cliente que tarda em chegar. Finalmente, um homem aluga um quarto. A excitação não podia ser maior. Mas no dia seguinte encontram o homem morto na cama. Para não chamar a policia e evitar a má publicidade para o alojamento, decidem enterrar o corpo na montanha. Mais clientes chegam e as coisas parecem estar a compor-se mas, os Kang parecem estar destinados a ter azar. Entre suicídios, assassinatos e acidentes, a contagem de corpos aumenta drasticamente. Para ajudar à confusão, a policia começa a investigar o desaparecimento de dois homens e uma nova estrada que está a ser construída vai passar precisamente no sítio onde a família está a enterrar os corpos. As coisas ficam mesmo fora de controlo.
Esta obra-prima plena de humor negro foi escrita e realizada por Ji-woon Kim, responsável por outras pérolas como “A Tale Of Two Sisters” ou “Memories” (parte de “Three Extremes 2”), por exemplo. Esta foi, aliás, a sua estreia em filme de longa duração. No elenco temos In-hwan Park (Tae-gu Kang, pai), Mun-hee Na (Mrs. Kang, mãe), Kang-ho Song (Yeong-min Kang, filho), Min-sik Choi (Chang-ku Kang , tio), Ho-kyung Go (Mi-na Kang, filha) e Yun-seong Lee (Mi-su Kang, filha).
Fusão de ambientes e ideias de inspiração Hitchcock com o típico humor Coreano pautam este filme. Não há um único momento “morto” no filme, passo a expressão. As situações mais bizarras e invulgares não param de acontecer. O sorriso, por vezes amarelo, não sai das nossas caras um único segundo. E muitas gargalhadas acompanham. E o final… é impagável. Uma das melhores cenas, de entre muitas, é quando a certo momento temos a família sentada à mesa, prestes a iniciar o seu jantar, e a falar descontraidamente sobre como as suas capacidades de cavar buracos e enterrar corpos está a melhorar. Antes demoravam horas, agora conseguem-no fazer em meia hora. Como se estivessem a falar de uma coisa normalíssima. Na televisão estão a falar de espiões Norte-Coreanos que foram apanhados em flagrante no Sul. O filho da família diz, na brincadeira, que estes mereciam era ser enterrados vivos. Toda a família ri do comentário. Hitchcock na sua pura essência! O mestre do suspense é que gostava de pôr as pessoas a falar de morte durante as refeições. E a banda sonora cheia de material das linhas Rockabilly, Horrorpunk e Gothic Rock encaixa na perfeição (à excepção de um ou dois temas algo desenquadrados), no ambiente geral do filme.
Das melhores comédia negras que vi nos últimos anos, a par de, por exemplo, “The Trouble With Harry” de Hitchcock. Recomendo vivamente a fãs deste tipo de humor, fãs de Hithcock e fãs de cinema de terror e suspense asiático em geral.
Falta ainda referir que o filme foi alvo de uma nova versão por parte do polémico realizador Japonês Takashi Miike, sob o título “The Happiness Of The Katakuris” (Katakuri-ke No Kôfuku) em 2001. Ainda não vi esta versão, mas fiquei ansioso por o fazer. Segundo parece, Miike transformou a história num bizarro musical com zombies e outros que tais. Hum… chama a atenção. Mas, para já, aconselho o visionamento desta obra-prima Sul-Coreana. 95%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0188503/

10/04/08

Kogyaru-gui: Oosaka Terekua Hen / Eat The Schoolgirl (1997)

Um membro de um gangue Yakuza só consegue obter prazer sexual ao assassinar as pessoas e depois masturbar-se nas feridas das mesmas. Isto sempre vestido de rapariga colegial, com peruca e tudo. Entre os assassinatos, este tem flashbacks do seu passado sangrento. Outro membro do gangue tem alguns problemas psíquicos e está sempre a pensar e a falar em sexo. Os outros membros do gangue raptam e violam mulheres; gravam sempre tudo em vídeo linha snuff-film e depois vêem e revêem as gravações. Já está bizarro o suficiente? Não? Um anjo (na forma feminina, apesar de se dizer que os anjos não têm sexo) sem asas (as feridas nas costas assim o indicam) anda sempre nua no apartamento do assassino atrás mencionado, oferece o seu corpo ao mesmo, diz-lhe que pode fazer o que quiser com ela, e dá-lhe para matar. Sangue, sexo, violações, sémen, vómito, masturbação, clisteres, estripamentos, perturbações psíquicas, violência extrema. Tudo isto e muito mais faz parte deste filme de série B. Apesar da história principal não ser bem compreensível ao longo do filme, dá para entender que o passado do “herói” não é dos mais coloridos, daí ele ter ficado com perturbações e cometer as atrocidades que comete. Nessa perspectiva, o final, assim como a frase que este profere, também se percebem perfeitamente.
Não é o melhor filme do estilo. Longe disso. Se querem algo mais “trabalhado” em, termos visuais e de argumento, então vejam um filme de Takashi Miike (“Ichi, The Killer”, por exemplo). Mas se não se importam muito com esses pormenores de argumento, realização, fotografia, etc, e gostam de cinema extremo, gore, trashy, série B, então esta é uma boa aposta. 70%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0450004/

27/03/08

Kowai Onna / Unholy Women (2006) - Trailer

Kowai Onna / Unholy Women (2006)

“Unholy Women” é uma antologia composta por 3 contos de terror / suspense oriunda do Japão. O argumento e a realização são creditados a Keita Amemiya e Takuji Suzuki. Passo a descrever e comentar um a um estes bizarros e surreais contos do país do sol nascente.

“Rattle Rattle”: Inicia como um qualquer filme de J-Horror mas rapidamente se transforma num pesadelo bizarro, surreal, de contornos quase psicadélicos, mais até do que propriamente assustador. Mas estejam descansados (ou não) que tem alguns pormenores bem assustadores. Kanako é uma jovem que chega a casa após uma saída com o seu namorado. O carro derruba uma jarra com flores que está num pequeno santuário à beira da estrada. Ao fazer o resto do caminho a pé, Kanako é atingida por algo que cai do cimo de um prédio, localizado perto do referido santuário. Após o embate, a rapariga começa a ter visões estranhas e a ser perseguida por um ser estranho, assustador, bizarro (já repararam quanto vezes usei esta palavra? Vejam o filme e depois dão-me razão!). A nossa heroína (Noriko Kakagoshi, o único senão nesta curta-metragem pois a rapariga não tem qualquer habilidade na arte da representação!) inicia uma investigação para saber sobre o suicídio de uma mulher e do seu falecido filho. O final é surpreendente. Ah, já gora, o título “Rattle Rattle”, é o som que a estranha criatura faz ao movimentar-se. 70%

“Hagane (Steel)”: Bizarro! Se eu usei a palavra para descrever o filme anterior, então aqui é que se encaixa na perfeição! Esta é uma das coisas mais estranhas e surreais que eu já vi em filme. Estes Japoneses lembram-se de tudo e mais alguma coisa. Sekiguchi é um miúdo do tipo “cromo” que trabalha numa oficina mecânica. Certo dia, o seu patrão mostra-lhe uma fotografia da sua irmã e pede-lhe para a levar a passear. Diz-lhe até para levar o carro desportivo de um cliente. Assim que o rapaz chega a casa do patrão confronta-se não com a rapariga da fotografia, mas com outro cenário bem diferente. Não quero estar a estragar-vos a surpresa pois vale bem a pena. Acreditem que é para largar um palavrão bem sonoro! A partir daí o encontro, e posteriores encontros (a bom custo evitados pelo rapaz), tornam-se em situações perfeitamente bizarras e surreais (vejam “Unhole Women” e vão usar estas palavras tão amiúde como eu). Comédia negra, suspense, terror e algum Gore. Há um pouco de tudo condensado nesta obra-prima da esquisitice. Todos os constituintes da antologia são fantásticos, mas só por este “Hagane” já vale a pena o visionamento. Fabuloso! 95%

“The Inheritance”: Para os fãs das histórias de fantasmas Japonesas. No entanto, acaba por ser até mais real do que propriamente sobrenatural. Esta história, que encerra a antologia, é plena de suspense, intensa, perturbadora, de um terror psicológico fortíssimo. Saeko é uma mulher recentemente divorciada que sai de Tóquio e regressa à sua terra natal, junto com o seu filho, para viver com a sua mãe. Já na casa, Saeko começa a agir de forma estranha, distante, agressiva, quase psicótica. Mas esta repentina mudança não é nova naquela casa. Em tempos houve outro incidente que envolveu a sua mãe e o seu irmão Mashaiko. Sem querer estar a arruinar o visionamento, posso dizer que o final não é dos mais agradáveis, mas isso apenas acentua ainda mais o ambiente extremamente tenso do filme. Um final feliz não conseguiria ter tanto impacto. É pena ser apenas uma curta-metragem, pois o tema poderia ser melhor explorado. 70%

Avaliação Final: 80%

RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0959314/

[Escrito ao som de Diamanda Galas w/ John Paul Jones “The Sporting Life” (Mute 1994)]

15/03/08

Horrors Of Malformed Men (1969) - Trailer

Horrors Of Malformed Men / Edogawa Rampo Taizen: Kyofu Kikei Ningen (1969)

Um homem com certas perturbações mentais, que não se lembra de quem é ou do seu passado, está internado num hospício. Este é atormentado por uma canção de embalar que não lhe sai da cabeça. Uma certa noite, um estranho tenta assassina-lo, sem qualquer motivo aparente, mas ele reverte a situação e consegue fugir. Ao fugir, ouve a cantiga ser trauteada por uma mulher pertencente ao um circo ambulante. Esta informa-o que ouviu a cantiga numa ilha ao largo da costa Japonesa. Imediatamente parte para a dita ilha para tentar perceber que relação tem com a maldita canção de embalar e, no processo, descobrir quem é. Fica a par da morte de um homem que é parecido fisicamente consigo e aproveita a situação e toma o lugar do falecido. No decorrer das suas investigações depara-se com o seu passado, presente e futuro, que não são assim tão coloridos.
Uma das primeiras sensações que tive e que me parece, ao ler as críticas online, que não foi só a mim que isto ocorreu, é que “Horrors Of Malformed Men” é uma espécie de versão Japonesa de “The Island Of Dr Moreau” de H.G. Wells. Mas não. Trata-se, isso sim, de uma adaptação do livro “The Strage Tale Of Panorama Island” de Edogawa Rampo (uma brincadeira com a pronúncia Japonesa de Edgar Allan Poe). Mas os princípios são similares.
Este filme, que foi banido durante décadas e finalmente se encontra disponível para nosso deleite é, mais do que terror visual, um filme de puro terror psicológico. A sua força assenta mais nas ideias e conceitos explorados do que propriamente no aspecto visual. Aspecto visual que também marca presença mas duma forma bizarra que apenas aumenta ainda mais o, já por si, ambiente psicadélico e hipnótico do filme (estamos em 1969, o ano do psicadelismo por excelência). Para isso contribui, e muito, o uso do Butoh, uma peculiar forma de dança Japonesa. A fantástica performance dos actores, principalmente Teruo Yoshida (Hirosuki Hitomi, o homem em procura do seu passado) e Tatsumi Hijikata (o próprio criador do Butoh no papel de Jogoro Komodo, o louco doutor que realiza as suas experiências na ilha) e a soberba realização do mítico Teruo Ishii também ajudam a tornar este filme numa experiência incrível que, acreditem, não irão esquecer tão cedo.
Segundo me consta, mas posso estar errado ou confundido, no Japão as deformações físicas são tidas como desgraças para a família do deformado. O que pode ser uma explicação válida para este filme, que se baseia nesse pressuposto, ter tido algum impacto no Japão.
Longe de ser o filme de terror mais brutal de sempre no Japão, tal como é apresentado actualmente, este é um filme intenso e bizarro, quase como um pesadelo estranho depois de uma noitada de excessos. Aconselho vivamente. O que não aconselho de forma alguma, é a consumirem drogas alucinogéneas antes de ver este filme. Ficam avisados! 85%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0142257/

13/03/08

Imprint (Masters Of Horror) (2006) - Trailer

Imprint (“Masters Of Horror”) (2006)

“Imprint” é um episódio / curta-metragem de 1 hora, realizada pelo polémico realizador Japonês Takashi Miike, e que é parte integrante da série de TV Norte-Americana “Masters Of Horror”. A ideia principal da série é convidar vários realizadores da área do terror, e que cada um seja responsável por um episódio. Dario Argento, John Carpenter, …… são alguns dos nomes envolvidos. Takashi Miike recebeu o convite também, e a sua participação resultou neste “Imprint”. Infelizmente, como habitual nos puritanos Estados Unidos, o episódio foi banido e não chegou a ir para o ar. Isto não me surpreende minimamente. Em primeiro lugar, nos Estados Unidos o mínimo fora dos padrões puritanos dos republicanos é banido. Em segundo lugar, já se sabe que o trabalho de Takashi Miike é extremamente agressivo a todos os níveis. Finalmente tive a oportunidade de ver esta preciosidade e de julgar por mim mesmo se havia razões válidas para o fazer.
Baseado numa história de Shimako Iwai (que faz uma aparição no filme como o sadístico torturador), Miike trasnporta para o ecrã uma história bizarra e violenta. Tortura, morte, prostituição, incesto, violações, abortos, fratricídio, deformações físicas, tudo faz parte de “Imprint”. Em meados do século 19, Christopher (Billy Drago, o único actor não Japonês do elenco), um jornalista Americano, viaja para o Japão para procurar a sua amada, que tinha conhecido numa das ilhas anos atrás, com a promessa de voltar para a buscar. Mas, ao chegar à ilha, o que vai encontrar é algo de bizarro, extremo, violento.
Não pode ser assim tão brutal, agressivo e chocante; pensei eu depois de ler algumas críticas que assim descreviam “Imprint”. Já vi outros filmes de Takashi Miike e aguentei. E, habitual consumidor de filmes de terror, Gore, suspense, série B, etc, não sou uma pessoa fácil de chocar ou assustar. Enganei-me redondamente! Este é um dos filmes que mais mexeu comigo até hoje.
A cena de tortura, que parece nunca mais acabar, é uma das cenas mais brutais cenas que já vi em filme. A certo ponto estava tão incomodado (mas sem consegui tirar os olhos do ecrã) que tinha um nó na garganta, o estômago revoltado, um frio intenso na espinha, as pernas a tremer e uma dor de cabeça forte. Depois disso, vários abortos são levados a cabo e os fetos são lançados ao rio. O meu estômago já não estava seguro, pior ficou. E eu, como já referi, sou consumidor habitual deste tipo de filmes violentos e intensos. Não é para estômagos fracos, aviso já! E mais não digo para não vos arruinar o visionamento. Para não variar, a realização de Miike é soberba, assim como a fotografia que realça tons de vermelho e verde, criando um ambiente ainda mais surreal e de sonho (ou pesadelo).
Se o mínimo de violência já vos incomoda, então mantenham-se afastados de “Imprint”, porque aqui não há lugar para concessões. Para os outros, corajosos o suficiente para ver “Imprint”, preparem-se para 60 dos mais intensos minutos a que alguma vez vão assistir em filme! 90%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0757061/

08/03/08

Leák / Mystics In Bali (1981)

A história é muito simples, banal até. Uma Norteamericana, Catherine Kean (Ilona Agathe Bastian), está a escrever um livro sobre magia negra. Depois de ter estado noutros locais, como Cuba por exemplo, onde aprendeu vudú, viaja para Bali, na Indonésia, onde pretende aprender Leyak. Leyak é uma forma de magia negra primitiva, supostamente, das mais poderosas. Com a ajuda do seu amigo Mahendra (Yos Santo) consegue tornar-se discípula da Rainha do Leák (Sofia W.D.).
Infelizmente é extremamente difícil encontrar a versão original deste filme, mesmo por meios poucos legais, e apenas tive a oportunidade de visionar a única versão disponível, que é (muito mal) dobrada em inglês. Gostaria imenso de ver isto na língua original.
O argumento é extremamente simples, os diálogos são banais e por vezes absurdos (bom, escrevo isto tendo em conta a versão dobrada, mas a original não deve andar muito longe), os actores são péssimos e parecem estar a movimentar-se e a falar como zombies, muuuuito leeentaaaamenteee. Segundo parece, Ilona Agathe Bastian, a actriz principal, era uma turista Alemã que estava de passagem pela Indonésia e que chamou a atenção a um dos produtores do filme, que lhe ofereceu o papel principal. Este foi o seu primeiro e único filme até à data.
O som (mais uma vez, baseando-me na dobragem) é péssimo; a imagem não é assim tão má, mas quando se trata da cabeça voadora, fica logo péssima (talvez devido à “técnica” que utilizaram para esse efeito especial, com montagens e sobreposição de filmagens); a edição também não está assim tão má. Os efeitos especiais são primitivos, do tipo “vêem-se os fios dos ovnis”, mas resultam. Como se isso não bastasse, a péssima dobragem desta versão que eu visionei, ainda tornam tudo mais “far out”. Aliás, é tudo isso em conjunto que faz o filme e cria a sua aura de culto.
Este filme é bizarro, surreal, psicadélico por vezes até. Pode parecer que não, mas isto ainda me causou alguns arrepios. Tentem ver isto depois da meia-noite, sozinhos, com o quarto escuro, como eu o fiz, e depois digam qualquer coisa. A célebre cena da cabeça que se desprende do corpo ainda com as entranhas agarradas é sublime! Uma cena brutalíssima a nível visual é a da já referida cabeça a sugar um feto directamente das entranhas da mãe grávida. Seja com maus ou bons efeitos especiais, a cena é grotesca e revoltante. E quanto ao riso da Rainha do Leyak, é tão grotesco e por vezes absurdo que chega a arrepiar e incomodar seriamente!
Como se costuma dizer, é tão mau que chega a ser bom. Um “must” para qualquer fã de cinema série B, oriental, terror, fantasia e bizarrias em geral. 80%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0097942/
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Mystics In Bali (1981) - The Fying Head

Un Chien Andalou (1929)

Esta é, sem sombra de dúvida, uma das películas mais bizarras que eu já tive o prazer de visionar. Esta curta-metragem Surrealista de 16 minutos é uma parceria entre o realizador Luís Buñuel e o pintor Salvador Dali. Estes dois génios concordaram em não incluir no filme nenhuma ideia ou imagem que pudesse ser explicada de forma racional, psicológica ou cultural. De facto, na sua grande maioria, o filme não faz sentido, mas se analisarmos bem algumas situações, imagens, pormenores e simbologia, conseguimos tirar algumas ideias. Os Surrealistas eram almas livres e não-conformistas, e a sua arte manipulava a realidade transformando-a em algo completamente distinto. Os Surrealistas eram os mestres do non-sense e do anarquismo.

Uma das cenas mais arrepiantes que eu já vi em filme faz parte de “Un Chien Andaluce”. E, acreditem, a branco e preto ainda se torna mais brutal e bizarro. Em grande plano vemos o olho de uma mulher ser cortado ao meio, com uma navalha de barbear, enquanto, alternadamente, uma fina sombra atravessa a Lua ao meio, estabelecendo um paralelismo com o corte da navalha. Este é um dos dois pormenores que Buñuel (realização e argumento) e Dalí (argumento) inseriram nesta película e que, segundo se diz, representam sonhos que ambos tiveram. Este é o de Buñuel. O de Dali é a palma de uma mão de onde saem formigas. “Formigas nas palmas da mão” é uma frase francesa que simboliza uma certa “comichão” para matar. Outro dos momentos altos do filme é quando um homem puxa duas cordas que arrastam um piano de cauda, dois seminaristas vivos, as placas dos 10 mandamentos e dois asnos mortos e em decomposição. Outra cena perfeitamente bizarra é a de um/a hermafrodita que atiça, com um pau, uma mão decepada que jaz no chão.

"Sentado confortavelmente num quarto escuro, maravilhado pela luz e pelo movimento que exercem um poder quase hipnótico… fascinado pelo interesse dos rostos humanos e as rápidas mudanças de local, (um) culto indivíduo placidamente aceita o mais aterrador dos temas… e tudo isto naturalmente sancionado pela habitual moralidade, governo, e censura internacional, religião, dominado pelo bom gosto e animado pelo humor branco e outros prosaicos imperativos da realidade.”
Luis Buñuel.

“Un Chien Andalou” serve o propósito de despertar o espectador deste referido torpor em que se encontra. As imagens fortes e violentas deste filme escandalizaram a sociedade dos finais da década de 20. Segundo o próprio Buñuel, após a estreia do filme houve imensas denúncias nas esquadras de polícia, assim como pedidos de para cancelar e banir esta “obscenidade”. E segundo o próprio, começou uma perseguição e bombardeamento de insultos e ameaças, que duraram até à sua velhice
Há também uma lenda que diz que Buñuel (ou Dali, não se sabe bem qual, se é que isto realmente aconteceu) pensava que ia ser linchado na estreia desta película, por isso mesmo encheu os bolsos de pedras para atirar às pessoas. Sendo isto verdade ou pura lenda, o certo é que é genial.
E é incrível como hoje em dia, passados cerca de 80 anos, estes 16 minutos de vídeo ainda conseguem chocar e enfurecer a maior parte das pessoas que o vêem. Acreditem que já li alguns comentários bem odiosos na internet sobre este filme, Buñuel e Dalí. E isso é obra!

Resta ainda referir, como curiosidade, que podemos ver os próprios Buñuel e Dali no filme, como o homem do prólogo e um dos seminaristas, respectivamente.

Em uma única palavra: Genial! 100%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0020530/

06/03/08

Taxidermia (2007)

O filme está dividido em 3 partes, 3 gerações, 3 homens de uma família húngara (pai, filho e neto). Cada uma das partes do filme retrata a vida de um dos 3 homens e a relação com o seu próprio corpo. O primeiro é Vendel Morosgoványi (Csaba Czene). Segunda guerra mundial. Vendel é um soldado que trabalha em casa do seu Coronel. Dorme no celeiro junto com os animais. Tem uma certa dificuldade em controlar os seus impulsos sexuais, em especial com as filhas e a obesa mulher do Coronel por perto. Eventualmente acaba por ter relações sexuais com a mulher do Coronel numa das cenas mais grotescas do filme. O Coronel mata-o, mas da união carnal resulta um filho, que tem um rabo de porco.
Seguimos agora a vida de adulto de Kálmán Balatony (Gergely Trócsányi), o filho. Este é um obeso campeão de concursos de comida. Esta segunda parte é mais ligeira na narrativa, mas muito mais pesada em termos visuais. Se têm um estômago fraco, mantenham-se afastados. Ingestão de largas quantidades de comida seguida de longas cenas de regurgitação, não é para qualquer um. Eu não sou fácil de enojar com este tipo de imagens mas, já estava a ficar algo inquieto. Kálmán casa-se com uma campeã do estilo, Gizi Aczél (Adél Stanczel) e da sua união nasce Lajos Balatony (Marc Bischoff).
Passamos então à terceira parte e à vida deste taxidermista (daí o título do filme). Lajos é muito diferente fisicamente dos seus progenitores. Ele é extremamente magro e pálido, e tem uma aparência física doente, assustadora e arrepiante. Passa a vida na sua loja a empalhar animais. Cuida do seu pai, agora abandonado pela mulher, com o triplo do peso, condenado a viver dentro de casa, sentado no mesmo sítio, dia após dia. Kálmám tem 3 gatos enormes, campeões de concursos de comida, pelos quais tem mais apreço que pelo próprio filho quem, segundo ele, nunca será um campeão como o pai. Mas Lajos tem algo preparado para ficar na história. Algo deveras grotesco, bizarro e perverso.
Não sei bem o que pensar deste filme. Não tem propriamente uma história que se possa seguir de início ao fim. À primeira análise, “Taxidermia” apoia-se mais no aspecto visual do que propriamente no argumento. Quanto à realização e trabalho de fotografia, estes estão soberbos, disso não haja dúvida. Mas se analisarmos com mais cuidado, encontramos alguma lógica no que nos é transmitido. “Taxidermia” mostra-nos 3 pessoas diferentes, entre si, e em relação ao resto do mundo e com elas explora um tema algo tabu para a grande parte da sociedade ocidental, que é o corpo humano. E não o faz da maneira mais simples e ligeira. Muito pelo contrário. Sexo, masturbação, pedofilia, distúrbios alimentares, bebés com rabos de porco, obesidade mórbida, sémen, vómito, sangue, tudo faz é utilizado nesta exploração extrema do corpo humano. E isso é chocante para a maior parte das pessoas “normais”, que seguem cegamente as normas, regras, leis, ética e moral da sociedade moderna actual.
Já li diversas críticas ao filme e muita gente descreve-o como uma tentativa vã de chocar ao máximo, apenas pelo puro prazer de chocar. Mas, se tivermos em conta os inúmeros “slashers” com “serial killers” e “rednecks” deformados que abundam nos filmes de terror americanos actualmente, com a mesma fórmula repetida até à exaustão, que podemos retirar desse estilo de filmes? Sangue, violência, gore, tortura, etc. Tudo aliado a histórias simples, como já referi, repetidas até à exaustão. Nessa perspectiva, este filme é inovador, imaginativo, diferente e que desafia os sentidos.
Para quem pensa que já viu de tudo em cinema, aqui está uma nova experiência. Eu, pelo menos, nunca pensei ver algo tão grotesco e bizarro como o que podemos ver na cena final. Se não conseguiram aguentar a segunda parte, ou o fizeram com alguma dificuldade, então aconselho-os vivamente a não ver a terceira e última parte do filme. Brutal! Nunca tal coisa me passaria pela cabeça. E mais não digo para não vos arruinar o visionamento.
Longe de ser uma obra-prima, é um filme que aconselho vivamente a fãs de cinema extremo.
75%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0410730/

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