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03/09/08

Akira Kurosawa’s Dreams (1990)

Este não é propriamente um filme com início, meio e fim, mas sim uma antologia de 8 histórias. Estas histórias são baseadas em sonhos do conceituado realizador Akira Kurosawa e, por essa mesma razão, fragmentadas e incompletas, tal como todos os sonhos do comum mortal. Junto com as breves descrições das curtas-metragens irei referenciar alguns aspectos da cultura, folclore e mitologia Japonesas de modo a se compreender melhor cada uma das peças de “Dreams”. Para não arruinar a visualização desta obra de arte a alguém, caso ainda não a tenha visto, não irei fazer uma narrativa e análise extensa de cada um deles, deixando isso para cada um de vós o fazer. Este é um filme que se tem de ver com alguma paciência, espírito crítico e abertura de mente pois as coisas aqui nem sempre são de fácil assimilação e/ou interpretação.

Umas das maiores dificuldades em ver um filme deste género, ou qualquer outro filme de uma cultura completamente diferente da nossa, são a informação cultural e folclórica contida no mesmo. Pormenores que são muito importantes podem passar-nos ao lado. E quando se fala em cinema japonês, essa vertente é acentuada. O Japão já foi apelidado de “Império dos sinais” devido à riqueza da comunicação não verbal, postura física, símbolos, objectos, palavras ou frases encaixadas num determinado contexto, e até o silêncio.

“Sunshine Through The Rain”: uma mãe diz ao filho para não sair de casa num dia de chuva porque, nesse tipo de clima, as raposas celebram os seus casamentos. Estas não gostam que as suas celebrações sejam observadas por estranhos e, se isso acontecer, estes podem ser alvos de um castigo fatal. A estrita educação Japonesa fica retratada neste conto.
Informação: No folclore Japonês há uma espécie de homens raposa que se apelidam de “kitsune”.

“The Peach Orchard”: o mesmo miúdo do conto anterior encontra os espíritos dos pessegueiros que foram cortados pelos homens. Este mostra arrependimento e as árvores decidem florescer mais uma vez para seu deleite. A preocupação de Kurosawa pela natureza e o meio ambiente. Esta encontra-se patente noutros contos desta antologia.
Informação: No Japão, a 3 de Março, há um festival de bonecas chamado “Hinamatsuri” no qual as bonecas são expostas em vários níveis, sendo a boneca Imperatriz colocada no mais alto nível e daí em diante.

“The Blizzard”: um grupo de montanhistas tenta escapar a uma tempestade e, consequentemente, à morte. O líder encoraja-os a continuar e não desistir. Estes acabam por ser salvos por um espírito. Este conto é dos que mais parece demorar a desenvolver, mas isso faz parte do próprio ambiente da situação, a vã tentativa de continuar a lutar contra a tempestade e o sentimento de desespero de quem vê a morte à sua frente. Este sentimento de vaguear e não se conseguir chegar a lado algum é uma característica de muitos sonhos.
Informação: No folclore nipónico existe o Yuki-onna, o qual é um espírito de alguém que morreu no frio ou na neve. O Yuki-onna revela-se a viajantes que se encontram encurralados em tempestades de neve e usa o seu gélido bafo para os deixar congelados. Estes aparecem frequentemente como belas mulheres de cabelos longos.
A tragédia da 5ª Infantaria do Exército Japonês é sobejamente conhecida pelos Japoneses. Durante uma manobra de treino nas montanhas Hakkoda, no Inverno de 1902, cerca de 200 recrutas morreram quando uma tempestade se abateu sobre eles. Apenas alguns sobreviveram.

“The Tunnel”: um capitão encontra os espíritos dos seus subordinados mortos em combate. Estes pensam que ainda estão vivos. Este é talvez o mais intenso de todos os sonhos e o meu favorito.
Informação: No folclore Japonês, quando alguém morre, um “reikon” (ou alma) deixa o corpo e vai para o mundo dos espíritos. Contudo, quando alguém morre em circunstâncias mais agressivas ou influenciada por emoções fortes, o “reikon” transforma-se num “yurei” e volta para o mundo físico.

“Crows”: um estudante de arte entra num quadro de Vincent Van Gogh (interpretado por Martin Scorsese) e encontra-se com o famoso pintor. Juntos percorrem cenários de alguns dos seus quadros.

“Mount Fuji In Red”:
um acidente numa central nuclear casa o pânico na população que acaba por se suicidar no mar. Mais uma vez a preocupação pela Natureza e, em particular, da ameaça nuclear que sempre pairou sobre o país. Outro dos meus favoritos.

“The Weeping Demon”: aqui retrata-se um mundo apocalíptico pós-catástrofe nuclear. Mutações humanas, animais e vegetais povoam a Terra. Não sobra nada do mundo que se conhecia, não há luz, não há quase sinais de vida e, por falta de comida, os mutantes tornam-se canibais, alimentando-se dos mais velhos e fracos. O mesmo homem do sonho anterior encontra aqui um desses mutantes e ambos têm uma conversa filosófica sobre o assunto. Na sequência do sonho anterior.

“Village Of The Watermills”: Um viajante chega a uma vila onde não há comodidades do mundo moderno, não há electricidade, não há carros, os vilãos são unos com a Natureza. Mais uma conversa de teor filosófico entre o viajante e um senhor idoso que se encontra à beira do rio. Outro dos meus favoritos. A mensagem de conservação da Natureza é mais notória neste segmento. É o finalizar de 2 horas de “sonhar acordado”. O encerrar com “chave de ouro” de “Dreams”.

Como disse anteriormente, esta não é uma película de fácil digestão e o espectador tem de se encontrar no estado de espírito certo. Além disso, não sendo obrigatório diga-se já, ter conhecimento de algumas lendas, mitologia, cultura e história do Japão pode ajudar imenso à compreensão de certas ideias. Qualquer pessoa pode apreciar o filme mas, essas informações e conhecimento geral podem ajudar a uma análise mais cuidada e, consequentemente, absorver tudo na sua plenitude e apreciar melhor esta obra de arte. Recomenda-se vivamente! 95%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0100998/
Akira Kurosawa's Deams - Fanmade Trailer

25/04/08

Siyama: Village Of Warriors (2008)

Três jovens Tailandeses (Ana, Gift e Boat) são misteriosamente transportados, através de um portal, para uma época passada. Trava-se uma guerra civil no antigo Sião (actual Tailândia) e as pessoas de uma pequena vila, Siyama, tentam defendê-la do jugo do infame Ong Mien e seus guerreiros. Para chegar à capital, Ayuthaya, e a conquistar, Ong Mien tem de passar obrigatoriamente por Siyama. Mas os habitantes não o vão permitir. E os três “visitantes” estão lá para os ajudar.
“Siyama” não pretende ser um épico ou uma obra-prima. É apenas um filme que tem como intuito divertir o espectador. Missão cumprida. Eu não mudaria muito, apenas talvez o actor que interpreta Boat (Bawriboon Chanreuang) que chega a ser, por momentos, realmente patético. Mas como a história se centra muito mais numa das raparigas do trio, Ana (Thitima Maliwan), assim como num jovem de Siyama, Pray (Than Thanakorn), a personagem de Boat nem chega a incomodar realmente. Todo o resto do elenco está fabuloso; a acção flúi a um ritmo aceitável, sem chegar a ter momentos mortos; a fotografia é fabulosa e a realização de Preecha Songsakul é irrepreensível. A química entre Pray e Ana é outro dos factores que nos envolvem na história., assim como a revelação em relação ao passado de Pray que é inesperada. Como habitual no cinema asiático, há um pouco de tudo, passando por fantasia, acção, comédia e romance.
Há filmes do género muito melhores? Há, pois claro. Piores? Também os há. Muitos até. Este está muito acima da média e, apesar de algumas falhas, pouco notórias diga-se de passagem, é um fantástico filme de aventura e fantasia que vai agradar aos fãs do género. Eu gostei muito do filme e, a não ser que sejam daquelas pessoas que estão constantemente a apontar erros e falhas aos filmes, vocês também irão gostar de “Siyama”. 80%
RDS

28/03/08

Witchfinder General (1968)

Século XVII. A Inglaterra está dividida pela guerra civil. Os monarquistas lutam contra o partido parlamentar pelo controle da nação. Este conflito distrai o povo do pensamento racional e permite que homens sem escrúpulos ganhem o poder local explorando superstições aldeãs. Um destes homens é Matthew Hopkins (Vincent Price), que percorre o país oferecendo os seus serviços como caçador de bruxas. Ajudado pelo seu sádico cúmplice John Stearne (Robert Russell), viaja de cidade em cidade extraindo confissões a “bruxas” com o único intuito de encher os bolsos e receber favores sexuais. Quando Hopkins condena o Padre John Lowes (Rupert Davies) por bruxaria, e subjuga a sobrinha deste, Sarah Lowes (Hilary Heath), acaba por ser alvo da fúria de Richard Marshall (Ian Ogilvy), noivo da rapariga. Arriscando ser condenado por fuga aos seus deveres militares, Richard persegue Hopkins e Stearne.
Fusão de thriller e terror, toques de western e dos filmes da Hammer. Esta obra-prima, baseada em factos reais, é tida como um dos filmes mais violentos alguma vez feitos no Reino Unido. Não pelas directrizes actuais, como é evidente, não se trata de um filme de terror puro, muito menos Gore. São os temas retratados, alguns deles até tabu, que criam o ambiente denso do filme e nos fazem pensar. Abuso de poder, corrupção, política, religião, superstição. Século XVII? As ideias e conceitos deste filme mantêm-se actuais. Obscuro, soturno, denso, agressivo. Uma obra-prima. Vincent Price, como sempre, está irrepreensível no papel do famigerado Hopkins. Price reencarna na perfeição a perfídia, malignidade, falta de escrúpulos e moral de Hopkins. Perfeito! Aliás, todo o elenco está soberbo. A realização de Michael Reeves é também um dos factores que eleva este filme a um patamar superior. E, segundo parece, Price e Reeves não se entendiam muito bem, existindo alguma tensão entre ambos o que, em parte, ajudou ao ambiente negro do filme. Pena é que o realizador Michael Reeves tenha deixado o mundo dos vivos tão cedo (devido a uma overdose de barbitúricos). Tinha apenas 25 anos de idade e deixou 4 filmes para a posteridade. Mas antes de nos deixar, ofereceu-nos esta obra-prima, “Witchfinder General”. “My name is Hopkins. Witchfinder”. Uma frase que fica na história do cinema. 100%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0063285/

26/02/08

The Scarlet Empress (1934)

Estamos perante um dos clássicos do cinema de orientação gótica da década de 30. O filme retrata a vida da Princesa de origem Alemã Sofia Frederica que se tornou na Imperatriz Catarina II da Rússia, no século XVIII. O filme foi baseado no diário da própria Catarina II. A bela Marlene Dietrich está perfeita na interpretação da Princesa Sophie / Imperatriz Catarina A Grande. É fantástica a transformação que esta sofre de um momento para o outro, quando deixa de ser a bela e inocente Princesa Sofia para passar a ser a sinistra Catarina. Perfeito. Sam Jaffe também está fantástico na interpretação do Grão-Duque Pedro. Mantendo ainda aqueles tiques característicos do cinema mudo, com movimentos e expressões faciais exagerados, quase burlescos, de pantomina, com um dramatismo exacerbado, consegue criar um Pedro perfeito, entre o louco, o maníaco e o sinistro. Louise Dresser é quem tem, talvez, a melhor das performances ao interpretar a dura e fria Imperatriz Elisabete Petrovna. John Lodge é outro dos actores em alta na pele do sedutor Conde Alexi. É claro que todas as interpretações destes, e de outros actores / actrizes, além dos mais de 1000 figurantes, não teriam tanto impacto se não fosse pelo soberbo trabalho de realização de Josef von Sternberg.
“The Scarlet Empress” é sinistro, artístico, bem estruturado, por vezes com tons de comédia negra, acentuando o seu dramatismo e suspense em passagens quase desprovidas de diálogo, apenas centrando-se no aspecto visual, na música e nos comentários escritos. Amor, traição, sexo, corrupção, sede de poder, e outros factores da mesma ordem, são ingredientes que fazem a história deste filme.
A arquitectura grotesca (historicamente errada, sendo na realidade neoclássica), com figuras grotescas, desfiguradas, gárgulas, portas enormes, iluminação quase ausente apenas fornecida por uma imensidão de velas, ajuda a todo esse tom negro, pesado e sinistro da história retratada.
Apesar dos erros e incongruências a nível histórico, um verdadeiro clássico do cinema do século XX. 100%
RDS

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0025746/

Excerto 1

Excerto 2

Excerto 3

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