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16/03/13

“The Disco Exorcist” (Wild Eye, DVD, 2012)

Neo-exploitation é o que se nos apresenta em “The Disco Exorcist”. O título é simples e esclarece na perfeição o conteúdo da película. Estamos na década de 70, no auge da música Disco e Rex Romanski, uma das personagens principais, é um frequentador da noite, borguista, pretendido pelas mulheres e que, infelizmente para ele, acaba por se envolver com a mulher errada. Trata-se de Rita Marie, uma sacerdotisa de magia negra, que leva a peito o facto de Rex a ter usado e largado logo a seguir. Já imaginamos, com base nesta descrição e no título, o que se segue. Uma mistura de terror, humor e sleaze nas devidas medidas.

Há um cuidado notório na forma como tudo foi feito, e nota-se que estamos a lidar com fãs do género. O trabalho de realização, não sendo exemplar ou ousado, apresenta boas ideias e provas mais do que suficientes de que quem está por detrás da câmara (Richard Griffin) sabe o que quer fazer, e como o conseguir.

A banda sonora é que poderia estar mais adequada pois, apesar de se basear na já referida corrente musical, tem um feeling algo moderno que acaba por se desenquadrar. Já os trabalhos de sonorização e fotografia são muito bons, e perfeitos para o estilo. Os efeitos especiais também têm o seu quê de apetecível com algumas cenas de gore bem conseguidas, tendo em conta o baixo orçamento. É nisto que “The Disco Exorcist” se destaca de tantos outros filmes de Neo-exploitation lançados hoje em dia. O cuidado nos diversos aspectos que fazem um filme.




“The Disco Exorcist” tem aquele ambiente retro, 70s exploitation, tanto no conceito, como na própria fotografia, e até nas próprias interpretações do elenco (leia-se: falta de talento na representação). E isso é mau? Não. Quem procura este tipo de filmes, já sabe o que vai ver. E é isto mesmo que quer encontrar. Agora, se procuram uma obra-prima do cinema moderno, esqueçam que isto não é para vocês. “The Disco Exorcist” é, acima de tudo, um tributo aos filmes de baixo orçamento da década de 70.


A edição da Wild Eye em DVD é região 0, em NTSC, e inclui como extras (poucos para satisfazer o comprador) um comentário áudio do realizador e teasers / trailers do filme e do catálogo Wild Eye.

RDS 

03/11/10

Curious Stories, Crooked Symbols – The Short Stories Of Roberto Gudiño (2009) & Rue Morgue, #99, April 2010


Este DVD reúne as três curtas-metragens de Roberto Gudiño, e que passo a apresentar.
“The Demonology Of Desire”: Uma adolescente faz uma pequena brincadeira de mau gosto com um rapaz que esta embeiçado por ela. Uma historia simples, algo lugar-comum, mas bem contada e com um ponto positivo que marca todo este DVD, a realização soberba de Gudiño. Um dos pontos negativos e que mais me fez torcer o nariz a esta curta, é mesmo a actuação da actriz principal. A rapariga é mesmo enervante (aqui, não no bom sentido). Não me deixou apreciar a curta da maneira que se pretende num filme destes. E aquela criatura? Qual o seu propósito? Na minha modesta opinião, o mais fraquito dos três, mas que mesmo assim já nos da a entender muito bem do que o realizador é capaz. 65%
“The Eyes Of Edward James”:
Ah, isto sim é quase uma obra de arte. Uma excelente ideia que Gudiño transpôs para o ecrã com sucesso. Um homem recorda um homicídio sangrento através de uma sessão de hipnotismo. Mais uma vez, o realizador dá cartas e conta-nos a história de um modo cativante, intenso e poderoso. Conceito geral, realização, narrativa e fotografia, tudo está soberbo. 90%
“The Facts In The Case Of Mister Hollow”:
A obra-prima de Roberto Gudiño, na minha modesta opinião. Começa com uma fotografia em tons sépia. Esta vai rodando, como se tivesse 3 dimensões, e dando a conhecer pormenores escondidos. Um tom de humor negro apimenta a coisa. Esta é mesmo curta, mas não precisa de mais tempo. Cativa desde o início ate ao fim. Recomendo vivamente. 100%
Alem das curtas, temos ainda direito a vários “making of”, entrevistas e “video tour”. A que mais gostei foi a que nos leva aos escritórios da revista Rue Morgue. Fez-me lembrar o espírito dos velhos tempos do Underground. Revi-me neste pessoal. Começar algo do zero, sem apoios, sem incentivos por parte de outros, apenas pelo puro gozo pela cultura alternativa, seja musica, cinema ou outros. Apreciação geral do DVD: 85%

Rue Morgue, #99, April 2010
Junto com o DVD recebi ainda um exemplar da revista Rue Morgue. Este é o #99 respeitante ao mês de Abril 2010. No geral, gostei da revista. Apresentações de novos filmes, criticas, entrevistas, etc. Como a maioria das revistas, não se limitam ao cinema, mas incluem rubricas de musica, videojogos, livros, etc. Sempre com temáticas ligadas ao terror, fantasia e/ou extremos. O aspecto negativo da revista é ter muitas publicidades. Metade das páginas são dedicadas aos anúncios. Compreende-se. A revista tem de ser paga, não é assim? Este tipo de material não é comercial e vende pouco. Fora isso, lê-se bem e com muito interesse. Dura é pouco, por ser apenas metade que se aproveita. Embora as imagens dos anúncios também sejam cativantes (as paginas são todas a cores). O preço? 9.95$. Um bocado puxado, mas vale a pena pelo conteúdo. 75%
RDS

14/12/08

Street Trash (1987)

O dono de uma loja de bebidas encontra na cave uma velha caixa de “Viper” que deve ter mais de 60 anos. Este decide fazer uns trocos com o achado e vende a estranha bebida a 1 dólar a garrafa. Os desalojados da área compram a bebida porque é mais barata que o habitual álcool. Mas esta faz com que a pessoa comece a derreter descontroladamente numa miríade de cores. Entretanto um detective começa a investigar para encontrar a causa das mortes. Juntem a isto várias personagens caricatas, um veterano do Vietnam que manda na sucata da rua, prostitutas, o jogo da apanhada com um pénis cortado, etc. A premissa é simples e não há história, desenvolvimento ou final muito elaborados; o ambiente do filme é tipicamente série B; o humor negro marca forte presença; os efeitos especiais são baratos; a banda sonora tipicamente 80s é do tipo brincadeira de amigos após ingestão de substâncias ilícitas. E isto é tudo mau? Muito pelo contrário, isto é que faz o filme. Querem uma obra-prima? Não a vão encontrar aqui. Isto é série B, puro divertimento e nada mais. Já vi melhor, mas “Street Trash” é óptimo para uma 6ª feira à noite antes de ir para os copos com os amigos. Ajuda a criar boa disposição. Mas apenas para quem gosta do género. Esses, tal como eu, vão ter direito a um festim cinematográfico. Todos os demais procurem o mais recente “blockbuster” no videoclube perto de casa. 70%
RDS
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IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0094057/
Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Street_Trash
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29/10/08

Zonbie Jietai / Zombie Self-Defense Force (2006)

Um OVNI despenha-se no Planeta Terra, numa floresta do Japão, e a radiação que emite transforma as pessoas em zombies canibais. Um peculiar grupo de pessoas (uma unidade militar em treinos, uma artista Pop, um duo de Yakuza, o dono de uma estalagem local e a sua amante) vai ser apanhado no meio da confusão e, um a um, vão sendo transformados também eles em zombies.
OVNI’s ridículos, um alienígena que parece saído de um “anime”, zombies, um ciborgue, gore, sangue, tripas, tiros, espadas samurai, yakuza, humor negro, efeitos especiais baratos. Foi encaixado um pouco de tudo para deleite dos fãs deste tipo de “porcarias” de baixo orçamento. Melhor que isto não podia ser! Há imenso tempo que não me divertia tanto com um filme Gore desde que vi o clássico “Braindead”. São 75 minutos de pura diversão para fãs do género. Deixem o cérebro à entrada e venham curtir esta bela “desgraça” de cinema Japonês realizada por Naoyuki Tomomatsu (“Stacy”, “Eat The Schoolgirl”). Aconselho-o vivamente. 80%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0879265/
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27/10/08

Death Race 2000 (1975)

Estamos no ano 2000 (em 1975 era visto como o futuro). Uma guerra em 1979 deixou os USA num estado de caos. Uma brutal corrida de automóveis, autorizada pelo próprio presidente, tem lugar todos os anos e é considerada um desporto nacional. Os concorrentes ganham pontos por atropelar os peões e, quanto mais nova ou mais velha a pessoa, mais pontos vale. A Resistência foi criada por um grupo de cidadãos para lutar contra o presidente, o actual governo dos USA e a mortal corrida. Para isso, infiltraram uma pessoa na corrida.
Sangue alaranjado, carros a derrapar na terra, explosões absurdas, alguma nudez, algum “gore” (pouco se vê, mas a nossa imaginação consegue ser bem brutal), humor negro, boa disposição e uma banda sonora “kitsch” a condizer. E com nomes como David Carradine, (um ainda jovem) Sylvester Stallone ou Martin Kove, temos filme. Um verdadeiro clássico de 70s exploitation meus amigos!
Um “remake” intitulado “Death Race 3000” foi lançado neste ano de 2008. Ainda não o vi mas estou curioso para ver como ficou, se estará mais brutal, mais ligeiro, se perdeu a magia do original… Mas para já, recomendo vivamente o original. Diversão a rodos é garantida! 80%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0072856/

21/10/08

Planet Terror (2007)

Já vi este filme há algum tempo mas ainda não tinha tido tempo de escrever umas palavras sobre o mesmo. Nos primórdios deste blog, escrevi uma pequena apreciação sobre “Death Proof” de Tarantino, ficando este, assim como os “fake trailers” de “Grindhouse”, para mais tarde. Os cinéfilos mais calejados já devem saber que a ideia por detrás de “Grindhouse” não é nem original nem arrojada. Mas talvez não fosse essa a ideia de Tarantino e Rodriguez. Já sabemos que quase todos os filmes de Tarantino são influência directa e/ou tributo a filmes e géneros perdidos no tempo (“Jackie Brown”, “Kill Bill”, etc). Bom, mas como pouco se faz nesses meandros hoje em dia, este par de filmes é bemvindo. Os filmes (e por arrasto os “fake trailers”) não são originais e ficam até atrás de muitos clássicos do género. Mas passemos então a “Planet Terror”.
A história é um chavão e poderia identificar um qualquer filme de zombies / gore feito nos últimos 30 anos. Um gás experimental é acidentalmente libertado numa base militar do Texas. As pessoas expostas ao gás tornam-se, adivinhem, zombies mutantes sedentos de carne humana. O que se segue é a tentativa se sobrevivência de um grupo de pessoas unidas pelo acaso. Rodriguez busca influência nos filmes de série B e baixo orçamento de zombies, gore, ameaças biológicas, splatter e outros que tais. Muita acção, sangue, tripas, bizarria, humor ora negro ora absurdo (típico série B), efeitos especiais, uma banda sonora a condizer (do próprio Rodriguez). Tudo isto sempre com aquele ar de filme de baixo orçamento, com uma edição paupérrima cheia de falhas, uma fotografia tipo vintage e “falhas” na fita original (tudo elementos propositados, como é evidente). Não é, como já disse, nada de transcendental, e se querem algo “melhor” (daquele género: “tão mau que é bom”), procurem os clássicos. De qualquer maneira, este é muito melhor que o seu par e, tendo em conta o cenário cinematográfico actual, este tipo de aventuras é mais que aplaudido. Diversão garantida. Recomendo. 80%
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Planet Terror - Trailer

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Deixo ainda uma rápida apreciação aos “fake trailers” que acompanhavam “Grindhouse”:
Machete (Robert Rodriguez): Estava a ver que não via o grande Danny Trejo num papel principal. Sem bem que isto é apenas um trailer, embora rumor haja de que Rodriguez filmou cerca de 30 minutos de filme, pretendendo ir em frente com “Machete”. Pelo belo aperitivo, aguardo ansiosamente que isso se concretize. Exploitation do mais puro!
Thanksgiving (Eli Roth): Com o Eli Roth nos comandos, só poderia ser um slasher de contornos Gore do mais brutal. O humor negro constante torna-o divertidíssimo. Gostei muito.
Werewolf Women Of The SS (Rob Zombie): Rob Zombie toma inspiração na trilogia de filmes “Ilsa” e nos filmes de Nazisploitation. Mulheres com peitos generosos, nazis, torturas, e outros que tais, são os ingredientes. Os convidados especiais são de peso: Udo Kier, Bill Moseley, Sybil Danning, Nicolas Cage. Este também daria um excelente filme!
Don’t (Edgar Wright): Mais humor negro, desta feita o responsável é Edgar Wright (“Shaun Of The Dead”). Hilariante! Menos não se poderia esperar de Wright.
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Machete

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Werewolf Women Of The SS / Don't / Thanksgiving

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12/09/08

Kataude Mashin Gâru / The Machine Girl (2008)

Ami Hyuga (Minase Yashiro) é a protagonista desta loucura nipónica (mais uma!). Ela é uma rapariga normal, estuda no liceu, é popular, desportista e cheia de vida. Depois do seu pai ter sido injustamente acusado de homicídio e, junto com a sua mãe, terem cometido suicídio, Ami e o seu irmão Yu (Ryôsuke Kawamura) ficaram órfãos. Ao mesmo tempo que estudam no liceu, estes tentam levar uma vida normal. Mas Yu e um amigo deste são vítimas de abuso (o chamado “bullying”) por parte de um filho de um Yakuza e o seu bando de jovens delinquentes. Até que um dia a coisa chega ao extremo e o bando mata os dois amigos. Ami começa a investigar para saber a verdade sobre quem matou o seu irmão. Esta acaba por ir para a casa dos Kimura onde é torturada e lhe é cortado o braço esquerdo com uma espada ninja. Junto com Miki (Asami), a mãe do outro rapaz assassinado, esta inicia uma vingança brutal.
Muito gore, sangue, membros decepados, tortura, violência extrema, um soutien com perfuradora, espadas ninja, uma arma ninja que arranca cabeças, etc. Um verdadeiro festim para os olhos. Tudo condimentado um humor típico do género, ou seja, um filme que não se leva a sério. Os efeitos especiais são na sua maioria primitivos, mas esse é mesmo o propósito. Ora são pequenos sacos com “sangue” ou mangueiras escondidas na roupa, cortes de imagem para colocar bonecos no lugar dos humanos no “momento da verdade”, etc. Tudo com aquele toque de série B que nós tanto gostamos. Um cheirinho a 70s exploitation (notório na fotografia) e/ou 70s Pinku ajuda ao resultado final. A banda sonora de fusão Rock e orquestral também está fabulosa e contribui para o ambiente geral. A isso adicionem ainda a típica loucura nipónica e temos filme! Para quem gosta de Gore / Splatter, “The Machine Girl” é diversão garantida do início ao fim. Apenas para fãs do género (“Braindead”, “Evil Dead” e outros que tais…). 90%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt1050160/

17/05/08

Choyonghan Kajok / The Quiet Family (1998)

A familia Kang (pai, mãe, tio, um filho e duas filhas) compra um alojamento na montanha. Estes aguardam ansiosamente o primeiro cliente que tarda em chegar. Finalmente, um homem aluga um quarto. A excitação não podia ser maior. Mas no dia seguinte encontram o homem morto na cama. Para não chamar a policia e evitar a má publicidade para o alojamento, decidem enterrar o corpo na montanha. Mais clientes chegam e as coisas parecem estar a compor-se mas, os Kang parecem estar destinados a ter azar. Entre suicídios, assassinatos e acidentes, a contagem de corpos aumenta drasticamente. Para ajudar à confusão, a policia começa a investigar o desaparecimento de dois homens e uma nova estrada que está a ser construída vai passar precisamente no sítio onde a família está a enterrar os corpos. As coisas ficam mesmo fora de controlo.
Esta obra-prima plena de humor negro foi escrita e realizada por Ji-woon Kim, responsável por outras pérolas como “A Tale Of Two Sisters” ou “Memories” (parte de “Three Extremes 2”), por exemplo. Esta foi, aliás, a sua estreia em filme de longa duração. No elenco temos In-hwan Park (Tae-gu Kang, pai), Mun-hee Na (Mrs. Kang, mãe), Kang-ho Song (Yeong-min Kang, filho), Min-sik Choi (Chang-ku Kang , tio), Ho-kyung Go (Mi-na Kang, filha) e Yun-seong Lee (Mi-su Kang, filha).
Fusão de ambientes e ideias de inspiração Hitchcock com o típico humor Coreano pautam este filme. Não há um único momento “morto” no filme, passo a expressão. As situações mais bizarras e invulgares não param de acontecer. O sorriso, por vezes amarelo, não sai das nossas caras um único segundo. E muitas gargalhadas acompanham. E o final… é impagável. Uma das melhores cenas, de entre muitas, é quando a certo momento temos a família sentada à mesa, prestes a iniciar o seu jantar, e a falar descontraidamente sobre como as suas capacidades de cavar buracos e enterrar corpos está a melhorar. Antes demoravam horas, agora conseguem-no fazer em meia hora. Como se estivessem a falar de uma coisa normalíssima. Na televisão estão a falar de espiões Norte-Coreanos que foram apanhados em flagrante no Sul. O filho da família diz, na brincadeira, que estes mereciam era ser enterrados vivos. Toda a família ri do comentário. Hitchcock na sua pura essência! O mestre do suspense é que gostava de pôr as pessoas a falar de morte durante as refeições. E a banda sonora cheia de material das linhas Rockabilly, Horrorpunk e Gothic Rock encaixa na perfeição (à excepção de um ou dois temas algo desenquadrados), no ambiente geral do filme.
Das melhores comédia negras que vi nos últimos anos, a par de, por exemplo, “The Trouble With Harry” de Hitchcock. Recomendo vivamente a fãs deste tipo de humor, fãs de Hithcock e fãs de cinema de terror e suspense asiático em geral.
Falta ainda referir que o filme foi alvo de uma nova versão por parte do polémico realizador Japonês Takashi Miike, sob o título “The Happiness Of The Katakuris” (Katakuri-ke No Kôfuku) em 2001. Ainda não vi esta versão, mas fiquei ansioso por o fazer. Segundo parece, Miike transformou a história num bizarro musical com zombies e outros que tais. Hum… chama a atenção. Mas, para já, aconselho o visionamento desta obra-prima Sul-Coreana. 95%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0188503/

24/04/08

Gwishini Sanda / Ghost House (2004)

Pil-gi é um miúdo que vive com o pai. Estes têm sempre desentendimentos com os senhorios das casas onde vivem, o que os leva e estar sempre a mudar. Avançamos no tempo. Pil-gi (Seung-won Cha) é já um adulto e está a comprar a sua primeira casa, tal como tinha prometido em tempos ao falecido pai. A casa parece perfeita à primeira. Boa localização, bonita, e disponível por um bom preço. Pil-gi está satisfeito com a sua compra, até que coisas estranhas começam a acontecer. A casa começa a atacá-lo, móveis mexem-se, pratos voam, aparecem galinhas (uma das suas fobias) em números exorbitantes. Uma das cenas mais hilariantes tem a ver com um aparelho de televisão. Só mesmo vendo para perceber o que é. Ora, estes ataques têm a sua razão de ser. A casa é habitada por uma fantasma. Mas uma muito bonita, nada dos habituais espectros horripilantes dos filmes de terror. Esta fantasma, Yeon-hwa (Seo-hee Jang), a anterior moradora, tenta expulsá-lo de sua casa. O filme começa numa linha de comédia de terror (as chamadas “horror comedies” em inglês, muito populares nos 80s) mas, como habitual nos filmes Coreanos (e asiáticos em geral), há uma viragem no estilo a cero ponto. Sem querer estar a revelar muito da história, a certa altura do filme ficamos a saber o porquê daquela fantasma estar presa à casa. Passamos por uma breve fase mais direccionada para o drama. Pil-gi tenta ajudá-la. Entretanto, uma outra personagem aparece em cena e Pil-gi e Yeon-hwa têm de unir esforços para lutar contra um inimigo comum. Uma luta final, bem ao estilo das comédias de terror dos 80s (as séries “House” e “Evil Dead” vêm à cabeça), vai decidir tudo. Tanto Seung-won Cha como Seo-hee Jang estão fabulosos nos seus respectivos papéis. Assim como o resto do elenco. Sem ser uma obra-prima, o filme cumpre o seu intento. Gostei muito de todas as “fases” do mesmo, tanto a comédia mais declarada, como as partes mais sérias. São duas horas de filme, mas que passam sem darmos por isso. Para quem gosta de comédia em geral, comédias Coreanas e 80s horror comedies em particular. 75%
RDS
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09/04/08

Jam Films (2002)

“Jam Films” é uma antologia de 7 curtas-metragens. A linha oscila entre a ficção-científica, a comédia e o drama. A ideia é dar a conhecer o trabalho de novos talentos no cinema Japonês. Na sua grande maioria, estas curtas têm uma mensagem subentendida. Não vou estar a dissecar cada um dos temas retratados. Vou apenas dar-vos umas curtas sinopses e um breve comentário. Vejam e tirem as vossas próprias conclusões.

Intro: Inicia com uma introdução de CGI. Um cenário bem psicadélico em formato de videoclip. Simples mas eficaz.

1º Curta – The Messenger: Escrita e realizada por Ryuhei Kitamura. Ficção-científica / Thriller / Suspense. Um chefe do submundo é visitado por uma misteriosa mulher apelidada de “The Messenger”. Esta tem uma função importante e vai revelar ao mafioso algo importante sobre o seu destino. Excelente argumento e realização por parte de Kitamura. A fotografia, apesar de assentar em tons escuros (bem patentes na própria história), é um regalo para a vista. A cena do tiroteio é também assombrosa. A tensão mantém-se do início ao fim. Fabuloso. A minha favorita de toda a antologia. 95%

2º Curta – Kendama: Escrita e realizada por Tetuso Shinohara. Comédia. Um homem recebe um presente do seu patrão por ter ganho o campeonato de Sumo da empresa. Trata-se de um Kendama. Este não liga ao objecto e dá-o à sua colega. Mas depois volta atrás e quer o Kendama de volta. Mas ela não o devolve e começa a fugir. No decorrer da perseguição vai de encontro a um jovem que leva um saco com cebolas para casa. Os sacos trocam-se. Uma série de hilariantes encontros e desencontros tem início. Hilariante. A minha segunda favorita em “Jam Films”. Sem bem que eu ainda adicionaria uns 5 segundos ao final. Vejam e depois vão ter o mesmo pensamento que eu tive. 85%

3º Curta – Cold Sleep: Escrita e realizada por George Ida. Ficção-científica / Comédia. Um homem acorda de forma abrupta dentro de uma máquina de criogenia. Esta por sua vez encontra-se numa sala de uma escola primária. O homem está confuso e não sabe quem é ou onde está. Vê outras pessoas mas estas comportam-se de uma forma infantil. Todas excepto uma jovem que o vai informar do que se está a passar. Estes fazem parte de uma elite terrestre que tem de repovoar outro planeta. Mas as intenções de quem os enviou são bem diferentes. Sarcástico. Gostei, mas não é dos meus favoritos. 65%

4º Curta – Pandora / Hong Kong Leg: Escrita e realizada por Rokuro Mochizuki. Drama / Suspense. Uma mulher tem um segredo. Sofre de pé-de-atleta. Esta procura uma cura milagrosa na medicina Chinesa. Um homem encerrado numa caixa lambe os pés da mulher. Esta fica obcecada pelo homem que não conhece. De tons semi-eróticos mas bizarros. Gostei. Isto já é o tipo de material bizarro que espero do Japão. 75%

5º Curta – Hijiki: Escrita e realizada por Yukihiko Tsutsumi. Drama / Thriller / Comédia negra. Esta história tem um final depressivo. Se não quiser ver, faça uma pausa. È assim que o realizador introduz Hijiko. Fiquei imediatamente com a sensação de que iria ver algo esquisito. Um homem tem como reféns duas mulheres e uma garota. Estão sentados a comer Hijiko (daí o título do filme). A polícia tem o prédio circundado. Ficamos a conhecer o passado das personagens. As reféns tentam convencer o homem a entregar-se num momento e no outro pedem-lhe para as matar porque a sua vida não vale nada. A miúda está impávida e serena. Insulta até o sequestrador. O final é inesperado. Gostei muito deste. Mas um daqueles filmes que só poderia vir do Japão. Surreal e algo bizarro mas embalado em tons de comédia negra. 80%

6º Curta – Justice: Escrita e realizada por Isao Yukisada. Comédia. Um liceu. Enquanto decorre uma aborrecida aula de inglês, na qual se estuda o “Potsdam Declaration”, vários alunos tentar passar o tempo da “melhor” maneira. Quem se lembra dos seus tempos de liceu vai, com certeza, identificar-se com estes jovens. Um dos jovens em particular inicia um registo de pontuações. Este observa as raparigas na aula de educação física a saltar barreiras. Três equipas (vermelha, azul e verde) representam as cores dos calções de ginástica. Um ponto para cada equipa por ajeitar os calções depois de saltar as barreiras. Hilariante, mas com uma mensagem subliminar que inclui a já referida “Potsdam Declaration”. No entanto, algo difícil de assimilar a ideia principal por detrás deste “Justice”. Tenho de rever este com atenção. 80%

7º Curta – Arita: Escrita e realizada por Shunji Iwai. Drama. Desde pequena que a jovem protagonista vê uma personagem chamada Arita aparecer nos seus livros de escola, nos seus desenhos, etc. O que é Arita. Está viva ou não? Será imaginação sua? As outras pessoas não parecem conseguir ver Arita. Algo surreal esta curta. Mais uma daquelas histórias que só podiam ter saído da cabeça de um Japonês. Mais uma vez, uma mensagem implícita. 65%

Geral: 80%

RDS

IMDB:
http://imdb.com/title/tt0385791/

01/04/08

Yi Boh Laai Beng Duk / Ebola Syndrome (1996)

Kai (Anthony Wong) trabalha num restaurante em Hong Kong. Um dia é apanhado na cama com a mulher do patrão. Como castigo pelo adultério, o patrão vai castra-lo, mas este enlouquece e mata o casal e um amigo, deixando viva apenas a filha. Foge para a África do Sul onde arranja emprego num restaurante chinês. Os novos patrões tratam-no mal e pagam-lhe pouco porque sabem que ele é um homem procurado em Hong Kong, e este não tem outra alternativa senão ficar ali. Kai e o patrão visitam uma aldeia para ir comprar carne mais barata e lá observam que uma epidemia está a matar os locais. Ao regressar a casa, Kai vê uma mulher doente, moribunda, e como não tem sexo há algum tempo, aproveita a ocasião e viola-a. Mas ao fazê-lo, contrai o vírus que esta tem, o ébola. O vírus causa febres altas, pústulas, liquefacção dos órgãos e posterior morte. Uma em 10 milhões de pessoas é imune, tornando-se apenas portadora, não doente. É o caso de Kai. Certo dia passa-se com os maus-tratos de que é alvo e mata os novos patrões. Mas não sem antes os contaminar. Faz hambúrgueres (não são hambúrgueres diz ele, são “African buns”) com a carne e no dia seguinte vende-os aos clientes. Quando a filha do primeiro casal, de férias na África do Sul, o reconhece e vai à polícia, este foge de novo para Hong Kong. Continua a matança e a contaminação. Será que a epidemia vai para e Kai vai ser apanhado?
Depois de “The Untold Story” de 1993, Anthony Wong volta a trabalhar com o realizador Herman Yau num filme similar. Gore na linha de “Braindead”, com muito humor negro à mistura, sangue tipo molho de tomate, efeitos especiais de baixo orçamento (é mais apoiado no excelente trabalho de câmara de Yau), actuações medianas (excepto Wong), péssimo som (parece uma dobragem mal feita), música de sintetizador, sangue, tripas, nudez. É isso que temos em “Ebola Syndrome”. E querem melhor? Gore, sleazy, exploitation, trash, série B e Cat. III são as designações da ordem. Não é um filme que se leva a sério. É um filme mais de entretenimento e puro Gore para aficionados do género do que propriamente de terror ou suspense. Não há nada que assuste ou impressione verdadeiramente (se bem que a cena da autopsia está bem feita e me impressionou um pouco). Não é dos melhores que já vi mas gostei do distorcido sentido de humor. Apenas para os extremistas e amantes do género. 75%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0116163/

27/03/08

Jim Henson’s The Cube (1969) & Time Piece (1965)

Não, não estamos a falar do filme Canadiano de suspense / ficção-científica. Este “The Cube” é um telefilme de 1 hora escrito (em parceria com Jerry Juhl) e realizado por Jim Henson (o mesmo de “Muppets Show”) para o programa de NBC “Experiment in Television”. A data de emissão foi 23 de Fevereiro de 1969.
Um homem está preso dentro de um cubo e não sabe como foi lá parar. Durante os cerca de 54 minutos em que decorre o filme, várias pessoas abrem diversas portas e entram no cubo. Depois de interagir com o homem, saem pela mesma porta por onde entraram. Mas quando o nosso herói tenta abrir a porta para sair, esta já não existe. O cubo está novamente fechado. Uma das personagens diz-lhe que ele tem de encontrar a sua própria porta para poder sair. Mas como? Qual é a minha porta? Como a consigo encontrar? São estas algumas das dúvidas do homem. E cada uma das personagens que entra não lhe satisfaz as dúvidas, pelo contrário, ainda o deixam com mais! Questões filosóficas sobre identidade, tempo, realidade, ilusão, entre outras, são debatidas em conjunto com cada um dos visitantes. Será que o “homem no cubo” conseguirá encontrar “a sua porta” e finalmente sair?
Richard Schaal está fantástico no papel do “homem no cubo” e, quanto à realização de Jim Henson, não haja dúvidas, está irrepreensível. O homem era um génio.
Hilariante, desconcertante, surrealista. Uma obra-prima. P.S. O original é a branco e preto, mas eu vi uma cópia a cores. 100%
RDS

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0291118/

A par com este telefilme tive ainda a oportunidade de ver “Time Piece”, uma curta-metragem de 9 minutos datada de 1965, escrita, realizada e protagonizada pelo próprio Jim Henson. Experimental, surrealista, musical, poética até. “Time Piece” é uma espécie de videoclip musical que lida com o assunto do tempo em várias vertentes tais como: o tempo como conceito filosófico, deslocação no tempo e a escravização do homem ao mesmo. Mais uma vez, o homem era um génio! 100%
RDS

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0059807/

[Escrito ao som de Yoshida Tatsuya / Satoko Fukii “Erans” (Tzadik 2004)]

18/03/08

The Host (2006) - Trailer

The Host / Gwoemul (2006)

O filme tem início numa base militar Norte-Americana (algum duplo sentido aqui, hem?) na Coreia do Sul onde, a mando do seu superior, um cientista deita uma larga quantidade de formaldeído pia abaixo, sabendo que este irá parar ao rio Han, bem no meio da cidade. Seis anos depois, um monstro, resultante de uma mutação devida à poluição das águas com o já referido químico, surge das águas do rio e causa o pânico no parque. Uma criança, Park Hyun-seo (Ah-sung Ko), familiar dos donos do quiosque à beira do rio, é levada pela criatura para o fundo das águas do Han. O seu pai Park Gang-du (Kang-ho Song), o avô Park Hie-bong (Hie-bong Byeon), o tio Park Nam-il (Hae-il Park) e a tia Park Nam-Joo (Du-na Bae) são levados pelo exército para uma área de quarentena, junto com todos os familiares das vítimas e outras pessoas possivelmente contaminadas. Estes pensam que a menina está morta mas, durante a cerimónia fúnebre, Park Gang-du recebe uma chamada do telemóvel da filha a pedir auxílio. Este diz aos militares o que aconteceu mas ninguém acredita nele, pensando que este está a sofrer um choque pela morte da filha. Este inicia então, junto com o resto da família, uma desesperada busca pela filha.
Elementos de terror, thriller, ficção cientfica, acção, drama e alguma comédia fazem o todo neste peculiar filme. Mas não pensem que o filme é uma vulgar mistura de estilos que o tornam numa manta de retalhos. Todos os elementos estão muito bem balançados. Os excelentes efeitos especiais e de CGI (Weta Workshop, responsável por “King Kong” e “The Lord of the Rings” & The Orphanage, responsável por “Harry Potter and the Goblet of Fire” e “Sin City”) têm um papel importante em “The Host”, mas são as performances dos actores principais que sobressaem. A história pode parecer simples, e é até certo ponto, mas está bem explorada. E temos uma reviravolta no final. Não é algo que as pessoas possam estar à espera. Mas fico por aqui para não vos revelar algo que vos possa estragar o filme. É peculiar, muito peculiar, é o único que posso dizer. Um final triste ou feliz? Nem sei bem. Vejam e tirem as vossas próprias conclusões.
Para fãs de cinema Sul-Coreano, asiático em geral e filmes de criaturas / monstros. Por alguma razão o filme ultrapassou a marca dos 12 milhões de pessoas que foram às salas de cinema no país de origem. 75%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0468492/

15/03/08

Mad Detective (2007) - Trailer

Mad Detective / Sun Taam (2007)

“Mad Detective” é um policial vindo de Hong Kong, de contornos sobrenaturais, com muito suspense e algum humor negro. Toques de Hitchcock estão presentes, assim como um ambiente Lynchiano, tudo embalado e apresentado de uma maneira tipicamente asiática.
O inspector Bun (Chin Wan Lau) é um detective que resolve os crimes de uma maneira peculiar. No dia da reforma do seu capitão, este corta uma orelha para dar de prenda ao seu superior. Anos mais tarde um polícia desaparece misteriosamente e o jovem inspector Ho Ka On (Andy On) é fica responsável pela investigação. Este procura Bun, entretanto suspenso da polícia, para o ajudar a resolver o caso. Ko Chi-wai (Ka Tung Lam), antigo parceiro do polícia desaparecido, é um dos investigados. As três personagens principais são encarnadas na perfeição por cada um dos actores, mas a performance de Chin Wan Lau está, sem dúvida alguma, em destaque. Um ser louco, anti-social, perturbado, quase esquizofrénico, Bun alega que consegue ver a personalidade interior das pessoas, e é desta maneira que consegue desvendar os mistérios com que se depara. No decorrer da investigação vemos o mesmo que ele, a pessoa ou várias pessoas / personalidades que constituem cada indivíduo, e no momento seguinte vemos a realidade, o que todos os outros comuns mortais vêm. E é aqui que a dupla de realizadores Johnny To e Ka-Fai Wai brilham, recriando o ambiente esquizofrénico que é a mente de Bun e a que nós próprios somos submetidos no decorrer do filme, contrastando e realçando tudo ainda mais com cenas reais. E a fabulosa cena final, um tiroteio entre as 3 personagens principais, é prova desse mesmo trabalho exemplar de realização (com um trabalho de câmara excepcional) e da performance dos 3 actores. Vemos as 3 pessoas reais e ainda as que Bun consegue ver. O suspense é enorme e, a tensão criada pela dúvida em relação à verdade por detrás de tudo e ao desfecho da situação, mantém-nos agarrados ao ecrã. E, como habitual nos filmes asiáticos, o final deixa-nos a pensar.
Há já imenso tempo que não via um thriller policial que me chamasse tanto a atenção. Fantástico. Para os fãs dos policiais de Hong Kong e de filmes como “The Sixth Sense”, esta é uma excelente aposta. 75%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0969269/

08/03/08

Un Chien Andalou (1929)

Esta é, sem sombra de dúvida, uma das películas mais bizarras que eu já tive o prazer de visionar. Esta curta-metragem Surrealista de 16 minutos é uma parceria entre o realizador Luís Buñuel e o pintor Salvador Dali. Estes dois génios concordaram em não incluir no filme nenhuma ideia ou imagem que pudesse ser explicada de forma racional, psicológica ou cultural. De facto, na sua grande maioria, o filme não faz sentido, mas se analisarmos bem algumas situações, imagens, pormenores e simbologia, conseguimos tirar algumas ideias. Os Surrealistas eram almas livres e não-conformistas, e a sua arte manipulava a realidade transformando-a em algo completamente distinto. Os Surrealistas eram os mestres do non-sense e do anarquismo.

Uma das cenas mais arrepiantes que eu já vi em filme faz parte de “Un Chien Andaluce”. E, acreditem, a branco e preto ainda se torna mais brutal e bizarro. Em grande plano vemos o olho de uma mulher ser cortado ao meio, com uma navalha de barbear, enquanto, alternadamente, uma fina sombra atravessa a Lua ao meio, estabelecendo um paralelismo com o corte da navalha. Este é um dos dois pormenores que Buñuel (realização e argumento) e Dalí (argumento) inseriram nesta película e que, segundo se diz, representam sonhos que ambos tiveram. Este é o de Buñuel. O de Dali é a palma de uma mão de onde saem formigas. “Formigas nas palmas da mão” é uma frase francesa que simboliza uma certa “comichão” para matar. Outro dos momentos altos do filme é quando um homem puxa duas cordas que arrastam um piano de cauda, dois seminaristas vivos, as placas dos 10 mandamentos e dois asnos mortos e em decomposição. Outra cena perfeitamente bizarra é a de um/a hermafrodita que atiça, com um pau, uma mão decepada que jaz no chão.

"Sentado confortavelmente num quarto escuro, maravilhado pela luz e pelo movimento que exercem um poder quase hipnótico… fascinado pelo interesse dos rostos humanos e as rápidas mudanças de local, (um) culto indivíduo placidamente aceita o mais aterrador dos temas… e tudo isto naturalmente sancionado pela habitual moralidade, governo, e censura internacional, religião, dominado pelo bom gosto e animado pelo humor branco e outros prosaicos imperativos da realidade.”
Luis Buñuel.

“Un Chien Andalou” serve o propósito de despertar o espectador deste referido torpor em que se encontra. As imagens fortes e violentas deste filme escandalizaram a sociedade dos finais da década de 20. Segundo o próprio Buñuel, após a estreia do filme houve imensas denúncias nas esquadras de polícia, assim como pedidos de para cancelar e banir esta “obscenidade”. E segundo o próprio, começou uma perseguição e bombardeamento de insultos e ameaças, que duraram até à sua velhice
Há também uma lenda que diz que Buñuel (ou Dali, não se sabe bem qual, se é que isto realmente aconteceu) pensava que ia ser linchado na estreia desta película, por isso mesmo encheu os bolsos de pedras para atirar às pessoas. Sendo isto verdade ou pura lenda, o certo é que é genial.
E é incrível como hoje em dia, passados cerca de 80 anos, estes 16 minutos de vídeo ainda conseguem chocar e enfurecer a maior parte das pessoas que o vêem. Acreditem que já li alguns comentários bem odiosos na internet sobre este filme, Buñuel e Dalí. E isso é obra!

Resta ainda referir, como curiosidade, que podemos ver os próprios Buñuel e Dali no filme, como o homem do prólogo e um dos seminaristas, respectivamente.

Em uma única palavra: Genial! 100%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0020530/

06/03/08

Taxidermia (2007)

O filme está dividido em 3 partes, 3 gerações, 3 homens de uma família húngara (pai, filho e neto). Cada uma das partes do filme retrata a vida de um dos 3 homens e a relação com o seu próprio corpo. O primeiro é Vendel Morosgoványi (Csaba Czene). Segunda guerra mundial. Vendel é um soldado que trabalha em casa do seu Coronel. Dorme no celeiro junto com os animais. Tem uma certa dificuldade em controlar os seus impulsos sexuais, em especial com as filhas e a obesa mulher do Coronel por perto. Eventualmente acaba por ter relações sexuais com a mulher do Coronel numa das cenas mais grotescas do filme. O Coronel mata-o, mas da união carnal resulta um filho, que tem um rabo de porco.
Seguimos agora a vida de adulto de Kálmán Balatony (Gergely Trócsányi), o filho. Este é um obeso campeão de concursos de comida. Esta segunda parte é mais ligeira na narrativa, mas muito mais pesada em termos visuais. Se têm um estômago fraco, mantenham-se afastados. Ingestão de largas quantidades de comida seguida de longas cenas de regurgitação, não é para qualquer um. Eu não sou fácil de enojar com este tipo de imagens mas, já estava a ficar algo inquieto. Kálmán casa-se com uma campeã do estilo, Gizi Aczél (Adél Stanczel) e da sua união nasce Lajos Balatony (Marc Bischoff).
Passamos então à terceira parte e à vida deste taxidermista (daí o título do filme). Lajos é muito diferente fisicamente dos seus progenitores. Ele é extremamente magro e pálido, e tem uma aparência física doente, assustadora e arrepiante. Passa a vida na sua loja a empalhar animais. Cuida do seu pai, agora abandonado pela mulher, com o triplo do peso, condenado a viver dentro de casa, sentado no mesmo sítio, dia após dia. Kálmám tem 3 gatos enormes, campeões de concursos de comida, pelos quais tem mais apreço que pelo próprio filho quem, segundo ele, nunca será um campeão como o pai. Mas Lajos tem algo preparado para ficar na história. Algo deveras grotesco, bizarro e perverso.
Não sei bem o que pensar deste filme. Não tem propriamente uma história que se possa seguir de início ao fim. À primeira análise, “Taxidermia” apoia-se mais no aspecto visual do que propriamente no argumento. Quanto à realização e trabalho de fotografia, estes estão soberbos, disso não haja dúvida. Mas se analisarmos com mais cuidado, encontramos alguma lógica no que nos é transmitido. “Taxidermia” mostra-nos 3 pessoas diferentes, entre si, e em relação ao resto do mundo e com elas explora um tema algo tabu para a grande parte da sociedade ocidental, que é o corpo humano. E não o faz da maneira mais simples e ligeira. Muito pelo contrário. Sexo, masturbação, pedofilia, distúrbios alimentares, bebés com rabos de porco, obesidade mórbida, sémen, vómito, sangue, tudo faz é utilizado nesta exploração extrema do corpo humano. E isso é chocante para a maior parte das pessoas “normais”, que seguem cegamente as normas, regras, leis, ética e moral da sociedade moderna actual.
Já li diversas críticas ao filme e muita gente descreve-o como uma tentativa vã de chocar ao máximo, apenas pelo puro prazer de chocar. Mas, se tivermos em conta os inúmeros “slashers” com “serial killers” e “rednecks” deformados que abundam nos filmes de terror americanos actualmente, com a mesma fórmula repetida até à exaustão, que podemos retirar desse estilo de filmes? Sangue, violência, gore, tortura, etc. Tudo aliado a histórias simples, como já referi, repetidas até à exaustão. Nessa perspectiva, este filme é inovador, imaginativo, diferente e que desafia os sentidos.
Para quem pensa que já viu de tudo em cinema, aqui está uma nova experiência. Eu, pelo menos, nunca pensei ver algo tão grotesco e bizarro como o que podemos ver na cena final. Se não conseguiram aguentar a segunda parte, ou o fizeram com alguma dificuldade, então aconselho-os vivamente a não ver a terceira e última parte do filme. Brutal! Nunca tal coisa me passaria pela cabeça. E mais não digo para não vos arruinar o visionamento.
Longe de ser uma obra-prima, é um filme que aconselho vivamente a fãs de cinema extremo.
75%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0410730/

Dead End (2003)

Na véspera de Natal, uma família viaja de carro com destino a casa da avó materna. À noite, claro está. Em cerca de 20 anos o pai seguiu sempre o mesmo percurso, pela auto-estrada, mas desta vez escolheu um atalho. Foi o maior erro da sua vida! Conduzem durante horas a fio numa estrada em linha recta que parece nunca mais acabar. Passam pela mesma cabana e pelo mesmo sinal de tráfego vezes sem conta. Dão boleia a uma rapariga vestida de branco que parece ter tido um acidente e que carrega um bebé, mas que desaparece pouco depois. Um carrinho de bebé aparece sem mais nem menos no meio da estrada. Os membros da família começam a desaparecer misteriosamente um a um. Passa por eles um carro negro, com um condutor invisível e que leva a vítima na parte de trás. Aos poucos, todos os membros da família (os que vão restando) começam a entrar em pânico e a enlouquecer e delirar. Começam a agir e a falar da forma mais absurda e, possivelmente, cómica. Mas o humor negro contido em “Dead End” apenas nos faz roer as unhas e deixa-nos entreabrir os lábios num sorriso “amarelo”, de tão intensa que é a situação em que a família se encontra. E é isso que realmente acontece na vida real. As pessoas quando confrontadas com situações extremas agem da forma mais irracional possível! E parece que nós estamos lá também no carro, a enlouquecer aos poucos com eles. Por vezes temos direito a um momento de descontracção com uma piada ou uma situação que nos puxa uma gargalhada intensa, mas logo a seguir levamos com uma cena deveras assustadora que nos cola à cadeira e nos deixa um arrepio frio na espinha. Esta fusão de terror e suspense com comédia negra é um claro tributo às “horror comedies” populares na década de 80. Mas, ao contrário desses filmes, mais orientados para a comédia, aqui temos um verdadeiro filme de suspense. Na maior parte das vezes nem chegamos a ver os corpos das vítimas, apenas a reacção das pessoas que os encontram. E a nossa imaginação faz o resto! E acreditem que conseguimos ser mais violentos e sangrentos do que se nos apresentassem as imagens. No final, ficamos a conhecer o verdadeiro sentido daquilo tudo que se passou. Ficamos esclarecidos. Mas depois, após um par de nomes do genérico final, há uma cena extra que nos deixa a pensar, seriamente, naquilo que poderá realmente ter acontecido.
É difícil acreditar que “Dead End” é um filme de baixo orçamento. Superior a qualquer “slasher” vindo dos Estados Unidos nos últimos anos. Terror, suspense, gore (pouco, deixam a nossa imaginação trabalhar), comédia, há um pouco de tudo nesta obra-prima. Foi realizado por dois Franceses, Jean-Baptiste Andréa e Fabrice Canépa, que fizeram um trabalho soberbo a todos os níveis. Foi rodado nos Estados Unidos e que conta com um elenco de luxo. Os pais são interpretados por Ray Wise e Lin Shaye, os filhos são interpretados por Alexandra Holden e Mick Cain, enquanto que o namorado da filha é Billy Asher. Como a mulher vestida de branco temos Amber Smith e como o misterioso condutor do carro temos Steve Valentine. Ray Wise é um veterano que já não tem que provar nada a ninguém (lembram-se de “Twin Peaks”?). Quanto a Lin Shaye, nunca gostei muito do seu trabalho, mas aqui está genial. Alexandra Holden, apesar de nova, já tem um currículo invejável, e parece ter nascido para representar. Neste filme está no seu máximo. Regra geral, todos os actores e actrizes estão soberbos nas suas interpretações, à excepção talvez de Mick Cain, que não me convenceu muito.
Em suma: genial e essencial!
85%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0308152/

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