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11/04/09

Pet Sematary (1989)

Pet Sematary (1989)
http://en.wikipedia.org/wiki/Pet_Sematary_(film)
http://www.imdb.com/title/tt0098084/
Outro filme que fez parte da minha adolescência. Stephen King escreveu a novela e também o argumento para este filme. Sinceramente, acho as histórias de Stephen King, e os filmes que nelas são baseados, extremamente aborrecidos. Este deve ser o único que eu gosto. E muito.
Os Creed acabam de se mudar para a pequena cidade. O único problema é que a casa está localizada perto de uma auto-estrada muito usada por camiões que passam a altas velocidades. O gato da família é atropelado. Jud, um vizinho, mostra a Louis, o pai, um cemitério de animais de estimação que há ali perto. Um pouco mais acima há um antigo cemitério índio. Louis enterra o gato nesse cemitério e o gato acaba por regressar à vida. Mas este não é o mesmo. Pouco tempo depois, o filho também é atropelado na mesma estrada. Desesperado, Louis enterra o garoto no maldito cemitério. Este regressa à vida, mas com uma personalidade malévola e tendências homicidas.
A ideia base do conto é fabulosa e a maneira como foi transposta para filme é perfeita. Há algumas falhas, o elenco não é composto pelos melhores actores/actrizes, mas penso que isso apenas atribui ao filme um certo ar de série B que lhe assenta bem. O garoto é, sem dúvida alguma, um dos melhores actores do filme. Basta apenas estar atento à mudança de personalidade após o fatídico acidente. Verdadeiramente assustador. E a cena final entre o garoto e o pai é inquietante. E a “cereja no topo do bolo”, o tema título “Pet Sematary” pelos Ramones que acabou por se tornar, também ela, um clássico. Um filme de culto do cinema de terror da década de 80 que eu aconselho a todos os amantes do género (se é que ainda não o viram, “shame on you”). Há ainda uma sequela de 1992 que não é tão boa como o original. E fala-se também num “remake” em 2010 (esses malditos “remakes”!). 95%
RDS


20/12/08

House Of Wax (1953)

O Professor Henry Jarrod (Vincent Price) é um escultor de figures de cera. O museu que este possui não é muito popular e está dar prejuízo. O seu sócio propõe-lhe então deitar fogo ao mesmo para receber o dinheiro do seguro. O Prof. Jarrod fica indignado com a proposta mas o seu sócio inicia o fogo na mesma e os dois começam a lutar enquanto o local começa a arder. O Prof. é deixado inconsciente no meio das chamas, abandonado à sua sorte. O sócio recebe o dinheiro do seguro, enquanto que o Prof. é tido como morto. Mas este reaparece anos mais tarde, com um novo museu e dois assistentes. A abertura do museu coincide com o desaparecimento de várias pessoas na cidade. Este exibe reconstruções de cenários macabros e as esculturas parecem reais. Mas o novo assistente, um promissor jovem escultor, começa a desconfiar do seu novo mestre.
Este filme, já por si, um “remake” de “Mystery of The Wax Musem” (1933), foi alvo de uma adaptação livre em 2005 que, sinceramente, deixou muito a desejar. Quando há dias escolhi este clássico para fazer o meu serão, pensei que o iria estar a rever, pois lembrava-me de algo do género. Mas não foi assim, pois o que eu vi há uns anos atrás seguia uma história similar à do “remake” de 2005, enveredando por uma linha “slasher”. Um grupo de amigos em viagem perde-se e vai parar a uma vila que tem um museu de cera. Um a um estes vão desaparecendo e estátuas parecidas aos mesmos aparecem em exposição. Não consigo encontrar referências em lado algum a essa adaptação. Ajudas são bem-vindas.
Quanto a esta adaptação de 1953 (há uma versão "normal", a qual eu vi, e uma versão em 3D), um verdadeiro clássico do cinema de suspense com aquela que é, na minha modesta opinião, uma das melhores performances do grande Vincent Price (se é que ele alguma vez teve uma má performance). Aconselho vivamente a fãs de Vincent Price, filmes de suspense / terror da década de 50 e suspense no geral. 100%
RDS
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IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0045888/
Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/House_of_Wax_(1953_movie)
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03/09/08

Akira Kurosawa’s Dreams (1990)

Este não é propriamente um filme com início, meio e fim, mas sim uma antologia de 8 histórias. Estas histórias são baseadas em sonhos do conceituado realizador Akira Kurosawa e, por essa mesma razão, fragmentadas e incompletas, tal como todos os sonhos do comum mortal. Junto com as breves descrições das curtas-metragens irei referenciar alguns aspectos da cultura, folclore e mitologia Japonesas de modo a se compreender melhor cada uma das peças de “Dreams”. Para não arruinar a visualização desta obra de arte a alguém, caso ainda não a tenha visto, não irei fazer uma narrativa e análise extensa de cada um deles, deixando isso para cada um de vós o fazer. Este é um filme que se tem de ver com alguma paciência, espírito crítico e abertura de mente pois as coisas aqui nem sempre são de fácil assimilação e/ou interpretação.

Umas das maiores dificuldades em ver um filme deste género, ou qualquer outro filme de uma cultura completamente diferente da nossa, são a informação cultural e folclórica contida no mesmo. Pormenores que são muito importantes podem passar-nos ao lado. E quando se fala em cinema japonês, essa vertente é acentuada. O Japão já foi apelidado de “Império dos sinais” devido à riqueza da comunicação não verbal, postura física, símbolos, objectos, palavras ou frases encaixadas num determinado contexto, e até o silêncio.

“Sunshine Through The Rain”: uma mãe diz ao filho para não sair de casa num dia de chuva porque, nesse tipo de clima, as raposas celebram os seus casamentos. Estas não gostam que as suas celebrações sejam observadas por estranhos e, se isso acontecer, estes podem ser alvos de um castigo fatal. A estrita educação Japonesa fica retratada neste conto.
Informação: No folclore Japonês há uma espécie de homens raposa que se apelidam de “kitsune”.

“The Peach Orchard”: o mesmo miúdo do conto anterior encontra os espíritos dos pessegueiros que foram cortados pelos homens. Este mostra arrependimento e as árvores decidem florescer mais uma vez para seu deleite. A preocupação de Kurosawa pela natureza e o meio ambiente. Esta encontra-se patente noutros contos desta antologia.
Informação: No Japão, a 3 de Março, há um festival de bonecas chamado “Hinamatsuri” no qual as bonecas são expostas em vários níveis, sendo a boneca Imperatriz colocada no mais alto nível e daí em diante.

“The Blizzard”: um grupo de montanhistas tenta escapar a uma tempestade e, consequentemente, à morte. O líder encoraja-os a continuar e não desistir. Estes acabam por ser salvos por um espírito. Este conto é dos que mais parece demorar a desenvolver, mas isso faz parte do próprio ambiente da situação, a vã tentativa de continuar a lutar contra a tempestade e o sentimento de desespero de quem vê a morte à sua frente. Este sentimento de vaguear e não se conseguir chegar a lado algum é uma característica de muitos sonhos.
Informação: No folclore nipónico existe o Yuki-onna, o qual é um espírito de alguém que morreu no frio ou na neve. O Yuki-onna revela-se a viajantes que se encontram encurralados em tempestades de neve e usa o seu gélido bafo para os deixar congelados. Estes aparecem frequentemente como belas mulheres de cabelos longos.
A tragédia da 5ª Infantaria do Exército Japonês é sobejamente conhecida pelos Japoneses. Durante uma manobra de treino nas montanhas Hakkoda, no Inverno de 1902, cerca de 200 recrutas morreram quando uma tempestade se abateu sobre eles. Apenas alguns sobreviveram.

“The Tunnel”: um capitão encontra os espíritos dos seus subordinados mortos em combate. Estes pensam que ainda estão vivos. Este é talvez o mais intenso de todos os sonhos e o meu favorito.
Informação: No folclore Japonês, quando alguém morre, um “reikon” (ou alma) deixa o corpo e vai para o mundo dos espíritos. Contudo, quando alguém morre em circunstâncias mais agressivas ou influenciada por emoções fortes, o “reikon” transforma-se num “yurei” e volta para o mundo físico.

“Crows”: um estudante de arte entra num quadro de Vincent Van Gogh (interpretado por Martin Scorsese) e encontra-se com o famoso pintor. Juntos percorrem cenários de alguns dos seus quadros.

“Mount Fuji In Red”:
um acidente numa central nuclear casa o pânico na população que acaba por se suicidar no mar. Mais uma vez a preocupação pela Natureza e, em particular, da ameaça nuclear que sempre pairou sobre o país. Outro dos meus favoritos.

“The Weeping Demon”: aqui retrata-se um mundo apocalíptico pós-catástrofe nuclear. Mutações humanas, animais e vegetais povoam a Terra. Não sobra nada do mundo que se conhecia, não há luz, não há quase sinais de vida e, por falta de comida, os mutantes tornam-se canibais, alimentando-se dos mais velhos e fracos. O mesmo homem do sonho anterior encontra aqui um desses mutantes e ambos têm uma conversa filosófica sobre o assunto. Na sequência do sonho anterior.

“Village Of The Watermills”: Um viajante chega a uma vila onde não há comodidades do mundo moderno, não há electricidade, não há carros, os vilãos são unos com a Natureza. Mais uma conversa de teor filosófico entre o viajante e um senhor idoso que se encontra à beira do rio. Outro dos meus favoritos. A mensagem de conservação da Natureza é mais notória neste segmento. É o finalizar de 2 horas de “sonhar acordado”. O encerrar com “chave de ouro” de “Dreams”.

Como disse anteriormente, esta não é uma película de fácil digestão e o espectador tem de se encontrar no estado de espírito certo. Além disso, não sendo obrigatório diga-se já, ter conhecimento de algumas lendas, mitologia, cultura e história do Japão pode ajudar imenso à compreensão de certas ideias. Qualquer pessoa pode apreciar o filme mas, essas informações e conhecimento geral podem ajudar a uma análise mais cuidada e, consequentemente, absorver tudo na sua plenitude e apreciar melhor esta obra de arte. Recomenda-se vivamente! 95%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0100998/
Akira Kurosawa's Deams - Fanmade Trailer

28/03/08

Witchfinder General (1968)

Século XVII. A Inglaterra está dividida pela guerra civil. Os monarquistas lutam contra o partido parlamentar pelo controle da nação. Este conflito distrai o povo do pensamento racional e permite que homens sem escrúpulos ganhem o poder local explorando superstições aldeãs. Um destes homens é Matthew Hopkins (Vincent Price), que percorre o país oferecendo os seus serviços como caçador de bruxas. Ajudado pelo seu sádico cúmplice John Stearne (Robert Russell), viaja de cidade em cidade extraindo confissões a “bruxas” com o único intuito de encher os bolsos e receber favores sexuais. Quando Hopkins condena o Padre John Lowes (Rupert Davies) por bruxaria, e subjuga a sobrinha deste, Sarah Lowes (Hilary Heath), acaba por ser alvo da fúria de Richard Marshall (Ian Ogilvy), noivo da rapariga. Arriscando ser condenado por fuga aos seus deveres militares, Richard persegue Hopkins e Stearne.
Fusão de thriller e terror, toques de western e dos filmes da Hammer. Esta obra-prima, baseada em factos reais, é tida como um dos filmes mais violentos alguma vez feitos no Reino Unido. Não pelas directrizes actuais, como é evidente, não se trata de um filme de terror puro, muito menos Gore. São os temas retratados, alguns deles até tabu, que criam o ambiente denso do filme e nos fazem pensar. Abuso de poder, corrupção, política, religião, superstição. Século XVII? As ideias e conceitos deste filme mantêm-se actuais. Obscuro, soturno, denso, agressivo. Uma obra-prima. Vincent Price, como sempre, está irrepreensível no papel do famigerado Hopkins. Price reencarna na perfeição a perfídia, malignidade, falta de escrúpulos e moral de Hopkins. Perfeito! Aliás, todo o elenco está soberbo. A realização de Michael Reeves é também um dos factores que eleva este filme a um patamar superior. E, segundo parece, Price e Reeves não se entendiam muito bem, existindo alguma tensão entre ambos o que, em parte, ajudou ao ambiente negro do filme. Pena é que o realizador Michael Reeves tenha deixado o mundo dos vivos tão cedo (devido a uma overdose de barbitúricos). Tinha apenas 25 anos de idade e deixou 4 filmes para a posteridade. Mas antes de nos deixar, ofereceu-nos esta obra-prima, “Witchfinder General”. “My name is Hopkins. Witchfinder”. Uma frase que fica na história do cinema. 100%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0063285/

22/03/08

Willy Wonka & The Chocolate Factory (1971) & Charlie And The Chocolate Factory (2005)

Willy Wonka & The Chocolate Factory (1971)
Baseado no seu próprio livro, Roald Dahl escreveu o argumento para este fantástico filme, realizado por Mel Stuart e protagonizado pelo grande Gene Wilder (Willy Wonka) e Peter Ostrum (Charlie).
Willy Wonka, o excêntrico dono de uma fábrica de chocolate, anuncia um passatempo no qual o prémio é uma visita guiada pela fábrica pelo próprio Wonka, onde poderão ficar a conhecer os segredos da mesma, assim como um fornecimento vitalício de chocolate. Quem encontrar um dos cinco bilhetes dourados escondidos nas barras de chocolate, será contemplado com o prémio. Charlie é um miúdo que sonha com encontrar um dos bilhetes mas, como a sua família é tão pobre, mal tem dinheiro para uma barra, quanto mais para várias, para poder encontrar o bilhete. Mas a sorte bate-lhe à porta quando encontra uma moeda e compra uma das barras premiadas. Junto com outros 4 miúdos insuportáveis, e respectivos acompanhantes, Charlie embarca numa experiência única. Mas o propósito de Willy Wonka é outro. Se ainda não viram o filme, não vos vou estragar a surpresa.
Uma fantasia multicolor, plena de aventura, com seres estranhos vindos de outras paragens (os Oompa Loompa), sinistra por momentos (Gene Wilder está fantástico como o excêntrico e sinistro Willy Wonka) e psicadélica até. Senão, atentem na viagem de barco pelo rio de chocolate que é uma verdadeira tripe de ácido!
Adorei quando era criança. Agora que sou adulto, tenho outro entendimento, consigo aprofundar mais a história, certas ideias, as personagens. Na altura, Willy Wonka parecia-me uma espécie de duende vindo de outra dimensão. E, como é evidente, adorava-o. Agora consigo perceber melhor a personagem e todas as nuances que são executadas na perfeição pelo grande Gene Wilder. E adoro-o ainda mais.
Um verdadeiro clássico! 100%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0067992/


Charlie And The Chocolate Factory (2005)Também gostei muito da versão do grande Tim Burton (sou grande fã do trabalho do homem) com o, já por si excêntrico, Johnny Depp como Willy Wonka (hoje em dia, quem seria melhor para interpretar a personagem do que ele?). Freddie Highmore também está muito bem como Charlie. O miúdo é uma promessa. “Charlie And The Chocolate Factory” baseia-se também no livro de Roald Dahl, daí as diferenças entre os dois filmes não serem tão grandes. É claro que esta versão mais recente tem outro ambiente mais fantasista e mais “familiar” diria até, do que propriamente psicadélico como a de 1971.
A própria personagem de Willy Wonka foi trabalhada de formas distintas. Enquanto que na versão de 1971 este é mais sinistro e não tão louco como quer dar a entender aos outros, na versão de 2005 é tão excêntrico que chega a estar desligado por completo da realidade. São perspectivas diferentes dos realizadores. As performances dos actores principais também ajudam a realçar esses perfis. Os finais também são diferentes. Diferença essa que não chega sequer a interferir com as personagens ou a história. É apenas uma pequena adição à versão de Burton que não está no primeiro filme.
Mas a versão de 1971 é a primeira, a original, a melhor. Claro está, a minha modesta opinião. Estão à vontade para discordar. 80%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0367594/

08/03/08

Un Chien Andalou (1929)

Esta é, sem sombra de dúvida, uma das películas mais bizarras que eu já tive o prazer de visionar. Esta curta-metragem Surrealista de 16 minutos é uma parceria entre o realizador Luís Buñuel e o pintor Salvador Dali. Estes dois génios concordaram em não incluir no filme nenhuma ideia ou imagem que pudesse ser explicada de forma racional, psicológica ou cultural. De facto, na sua grande maioria, o filme não faz sentido, mas se analisarmos bem algumas situações, imagens, pormenores e simbologia, conseguimos tirar algumas ideias. Os Surrealistas eram almas livres e não-conformistas, e a sua arte manipulava a realidade transformando-a em algo completamente distinto. Os Surrealistas eram os mestres do non-sense e do anarquismo.

Uma das cenas mais arrepiantes que eu já vi em filme faz parte de “Un Chien Andaluce”. E, acreditem, a branco e preto ainda se torna mais brutal e bizarro. Em grande plano vemos o olho de uma mulher ser cortado ao meio, com uma navalha de barbear, enquanto, alternadamente, uma fina sombra atravessa a Lua ao meio, estabelecendo um paralelismo com o corte da navalha. Este é um dos dois pormenores que Buñuel (realização e argumento) e Dalí (argumento) inseriram nesta película e que, segundo se diz, representam sonhos que ambos tiveram. Este é o de Buñuel. O de Dali é a palma de uma mão de onde saem formigas. “Formigas nas palmas da mão” é uma frase francesa que simboliza uma certa “comichão” para matar. Outro dos momentos altos do filme é quando um homem puxa duas cordas que arrastam um piano de cauda, dois seminaristas vivos, as placas dos 10 mandamentos e dois asnos mortos e em decomposição. Outra cena perfeitamente bizarra é a de um/a hermafrodita que atiça, com um pau, uma mão decepada que jaz no chão.

"Sentado confortavelmente num quarto escuro, maravilhado pela luz e pelo movimento que exercem um poder quase hipnótico… fascinado pelo interesse dos rostos humanos e as rápidas mudanças de local, (um) culto indivíduo placidamente aceita o mais aterrador dos temas… e tudo isto naturalmente sancionado pela habitual moralidade, governo, e censura internacional, religião, dominado pelo bom gosto e animado pelo humor branco e outros prosaicos imperativos da realidade.”
Luis Buñuel.

“Un Chien Andalou” serve o propósito de despertar o espectador deste referido torpor em que se encontra. As imagens fortes e violentas deste filme escandalizaram a sociedade dos finais da década de 20. Segundo o próprio Buñuel, após a estreia do filme houve imensas denúncias nas esquadras de polícia, assim como pedidos de para cancelar e banir esta “obscenidade”. E segundo o próprio, começou uma perseguição e bombardeamento de insultos e ameaças, que duraram até à sua velhice
Há também uma lenda que diz que Buñuel (ou Dali, não se sabe bem qual, se é que isto realmente aconteceu) pensava que ia ser linchado na estreia desta película, por isso mesmo encheu os bolsos de pedras para atirar às pessoas. Sendo isto verdade ou pura lenda, o certo é que é genial.
E é incrível como hoje em dia, passados cerca de 80 anos, estes 16 minutos de vídeo ainda conseguem chocar e enfurecer a maior parte das pessoas que o vêem. Acreditem que já li alguns comentários bem odiosos na internet sobre este filme, Buñuel e Dalí. E isso é obra!

Resta ainda referir, como curiosidade, que podemos ver os próprios Buñuel e Dali no filme, como o homem do prólogo e um dos seminaristas, respectivamente.

Em uma única palavra: Genial! 100%
RDS

IMDB:
http://www.imdb.com/title/tt0020530/

05/03/08

Freaks (1932)

“Freaks” é uma obra-prima do cinema do século XX, realizada em 1932 pelo mestre Tod Browning. Vindo de realizar o clássico de terror do século XX, “Dracula” (1931), Browning trabalha naquele que é um dos filmes mais estranhos e polémicos que a MGM alguma vez lançou. Filme este que foi banido na Inglaterra durante 30 anos. Não só pelas imagens algo fortes para a data como, principalmente, por ter incluído no elenco verdadeiros membros de “sideshows”. Não estamos a falar de actores disfarçados, mas sim de seres humanos com verdadeiras deformações físicas.
A história é simples. Tudo se passa num circo que, entre outras atracções, conta com um “sideshow” que inclui diversas aberrações como gémeas siamesas, um homem sem braços nem pernas, anões, um homem sem a metade inferior do corpo, uma rapariga sem braços, uma hermafrodita, um esqueleto humano, e outros. São estes os “freaks” do filme. Ou pelo menos assim parece à primeira. Mas já lá vamos à explicação.
Cleopatra (Olga Baclanova), uma trapezista “normal”, aceita casar-se com o anão Hans (Harry Earles) que conduz o “sideshow” e está perdidamente apaixonado por ela. Mas o que ela apenas pretende é o seu dinheiro e não tem o mínimo de respeito por ele ou qualquer outra das pessoas do “sideshow”. Em conluio com Hercules (Henry Victor), seu amante, esta tenta apoderar-se da herança de Hans, tentando envenenar o anão. Mas os membros do grupo, rejeitados da sociedade, mantêm-se sempre unidos, e têm as suas próprias leis e regras. Quando mexem com alguém do grupo, mexem com todos. E decidem vingar-se de Cleopatra e Hercules. Durante o filme vemos estas pessoas como o que são, seres humanos como qualquer outro, que amam, têm sonhos e ambições. Mas no final revoltam-se e tornam-se vingativos e sinistros. Mas podemos culpabiliza-los pelo acto brutal que acabam por realizar? A sociedade não os admite como parte integrante da mesma. Eles não se podem reger, portanto, pelas suas leis.
O propósito de “Freaks” é deixar-nos a pensar se os “freaks” são as pessoas deformadas fisicamente ou se serão aqueles que, como Cleopatra e Hercules, têm as almas “deformadas”. É pena que, após mais de 70 anos, a mensagem deste filme ainda seja válida. É claro que a medicina e ciência actuais conseguiram eliminar grande parte destas deformações de nascença, mas a mensagem pode perfeitamente ser adaptada ao racismo, xenofobia, homofobia, intolerância entre diferentes ideologias religiosas e/ou políticas, obsessão pela aparência física, etc. Um clássico que aconselho vivamente a todos. 100%
RDS

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0022913/
Informações sobre o elenco: http://www.missinglinkclassichorror.co.uk/freaksnattxt.htm
Vídeo Online: http://video.google.com/videoplay?docid=6355110065089064433
Definição de Sideshow no Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Sideshow
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Freaks (1932) - Montagen Fan-made

26/02/08

The Scarlet Empress (1934)

Estamos perante um dos clássicos do cinema de orientação gótica da década de 30. O filme retrata a vida da Princesa de origem Alemã Sofia Frederica que se tornou na Imperatriz Catarina II da Rússia, no século XVIII. O filme foi baseado no diário da própria Catarina II. A bela Marlene Dietrich está perfeita na interpretação da Princesa Sophie / Imperatriz Catarina A Grande. É fantástica a transformação que esta sofre de um momento para o outro, quando deixa de ser a bela e inocente Princesa Sofia para passar a ser a sinistra Catarina. Perfeito. Sam Jaffe também está fantástico na interpretação do Grão-Duque Pedro. Mantendo ainda aqueles tiques característicos do cinema mudo, com movimentos e expressões faciais exagerados, quase burlescos, de pantomina, com um dramatismo exacerbado, consegue criar um Pedro perfeito, entre o louco, o maníaco e o sinistro. Louise Dresser é quem tem, talvez, a melhor das performances ao interpretar a dura e fria Imperatriz Elisabete Petrovna. John Lodge é outro dos actores em alta na pele do sedutor Conde Alexi. É claro que todas as interpretações destes, e de outros actores / actrizes, além dos mais de 1000 figurantes, não teriam tanto impacto se não fosse pelo soberbo trabalho de realização de Josef von Sternberg.
“The Scarlet Empress” é sinistro, artístico, bem estruturado, por vezes com tons de comédia negra, acentuando o seu dramatismo e suspense em passagens quase desprovidas de diálogo, apenas centrando-se no aspecto visual, na música e nos comentários escritos. Amor, traição, sexo, corrupção, sede de poder, e outros factores da mesma ordem, são ingredientes que fazem a história deste filme.
A arquitectura grotesca (historicamente errada, sendo na realidade neoclássica), com figuras grotescas, desfiguradas, gárgulas, portas enormes, iluminação quase ausente apenas fornecida por uma imensidão de velas, ajuda a todo esse tom negro, pesado e sinistro da história retratada.
Apesar dos erros e incongruências a nível histórico, um verdadeiro clássico do cinema do século XX. 100%
RDS

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0025746/

Excerto 1

Excerto 2

Excerto 3

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