O Spaghetti Western é um subgénero de westerns que
surgiu a meados da década de 60 na Itália, após o declínio das películas
Peplum, pelas mãos de produtores e realizadores Italianos. Tal como o Peplum
era a contraproposta para os épicos norte-americanos, também o spaghetti
western o era para os westerns de origem nos USA.
O termo surgiu inicialmente com um teor derrogatório,
mas acabou por se tornar descritivo. A denominação usada no país de origem era
“western all’italiana”. O termo Eurowesterns também surgiu para descrever
filmes produzidos no resto da Europa, tal como os Winnetou Alemães ou os Ostern
Westerns da União Soviética e países do Leste.
A maioria dos filmes era composta por um elenco
multilingue, fazendo com que não tivesse uma língua predominante, sendo o som posteriormente
sincronizado, em várias línguas, conforme o país de comercialização. Também a
equipa técnica era, invariavelmente, multinacional.
Não há um verdadeiro consenso sobre qual foi o
primeiro spaghetti western, mas no ano de 1964 deu-se o “boom” do género com
quase 3 dezenas de produções entre a Itália e a Espanha. O filme de maior
relevo nesta explosão é, sem dúvida, “A Fistful of Dollars” de Sergio Leone,
com Clint Eastwood encarnando o mítico “man with no name” (homem sem nome) que
viria a protagonizar mais dois filmes na trilogia dos dólares deste realizador.
A inovação em termos cinemáticos, banda sonora (cortesia de Ennio Morricone),
argumento e performance viria a tornar-se o modelo para o que se seguiria.
Na primeira metade da década de 70, o género já
estava a cair em saturação e a tonalidade mais negra, violenta e densa dos
primeiros spaghetti westerns teve de sofrer uma mutação para contornos mais
ligeiros e humorísticos.
Já mais perto da década de 80, o género estava em
declínio e nem mesmo a tentativa de regresso à fórmula inicial o salvou da
extinção.
Mais de 600 filmes foram produzidos entre 1960 e
1980. Na segunda metade desta apresentação poderão ver os mais essenciais, que
se tornaram objecto de culto e influenciaram muitos dos grandes nomes do cinema
actual, inclusive de Hollywood.
Dos grandes nomes no género podemos destacar (sem
qualquer tipo de ordem):
Actores:
Clint Eastwood, Lee Van Cleef, Gian Maria Volonté,
Terence Hill, James Coburn, Klaus Kinski, Tomás Milián, Franco Nero, Jack Palance, Telly Savalas, Eli Wallach, entre outros.
Compositores: Ennio Morricone, Luis Bacalov, Stelvio Cipriani, Nico Fidenco ou Fabio Frizzi, por exemplo.
Não referi muitos títulos nesta breve explicação do
género, pois apresento agora uma lista daqueles que considero de relevo,
abrangendo as diversas fases. É difícil escolher apenas 10 títulos, por isso,
fiz a lista deste modo:
5 Essenciais (se quiserem entrar neste universo,
estes são os que têm de ver primeiro);
10 Clássicos (Gostaram dos anteriores? Aqui estão
outros 10 para explorar melhor o género);
5 Muito bons (Ficaram viciados! Estes são os que se
seguem. Divirtam-se!).
ESSENCIAIS
01 – The Good,
The Bad & The Ugly (Sergio Leone, 1966) – A terceira entrada na
trilogia dos dólares de Leone. Tudo é perfeito, desde a realização soberba de
Leone, passando pela actuação do trio Eastwood (Blondie ou “man with no name”),
Van Cleef (Angel Eyes) e Wallach (Tuco), até à perfeita banda sonora de Ennio
Morricone (o filme não teria atingido a perfeição sem a simbiose com a música
do maestro). O "trielo" final é uma das melhores cenas de sempre do cinema mundial. Não só o melhor spaghetti western, como também um dos melhores
filmes de sempre.
02 – Django (Sergio Corbucci, 1966)
– A violência no género é dado adquirido, no entanto, Corbucci levou-a ao
extremo neste clássico protagonizado por Franco Nero. Não só e um filme
violento como também negro e denso. Tal como no anterior título, tudo em Django
é irrepreensível. E tal como em “The Good, The Bad & The Ugly”, o tema
título (Luis Enriquez Bacalov) é um dos mais facilmente reconhecíveis de todo o
género. O nome Django passaria a ser usado repetidamente no género, embora
apenas tenha existido uma verdadeira sequela (“Django 2: Il Grande Ritorno”),
já em 1987. Inclusive o Japonês Takashi Miike (“Sukiyaki Western
Django”) e Tarantino (“Django Unchained”) já
fizeram a sua homenagem.
03 – Once Upon A
Time In The West (Sergio Leone, 1968) – Mais uma entrada de Leone nesta
lista principal. Um épico que atinge a marca dos 165 minutos (dependendo da
versão) e que conta com a performance de Henry Fonda, Charles Bronson e Claudia
Cardinale, entre outros. Leone leva ao extremo tudo o que havia experimentado
na sua trilogia dos dólares (principalmente no número um desta lista).
Condimentado com mais uma irrepreensível banda sonora de Morricone. A salientar
a colaboração de um jovem Dario Argento no argumento.
04 – The Big Gundown (Sergio
Solima, 1967) – Lee Van Cleef e Tomas Milian num jogo do gato e do rato com
algumas reviravoltas e que leva, indubitavelmente, a um confronto final. Outro
tema título facilmente reconhecível pelas mãos de Morricone.
05 – The Great Silence (Sergio
Corbucci, 1968) – Mais um western de atmosfera negra protagonizado por
Jean-Louis Trintignant, como o mudo Silenzio, um anti-herói que enfrenta o
vilão Loco, encarnado por Klaus Kinski, durante a grande nevão de 1899.
CLÁSSICOS (sem ordem
específica, pois esta é perfeitamente discutível)
06 – A Fistful Of Dollars
(Sergio Leone, 1964) – O primeiro da trilogia dos dólares. O filme que deu
início à exploração do género. Eastwood encarna o mítico “man with no name”
pela primeira vez.
07 – For A Few Dollars
More (Sergio Leone, 1965) – Segunda entrada na trilogia de Leone. A
Eastwood junta-se Lee Van Cleef e Gian Maria Volonté.
08 – Compañeros (Sergio
Corbucci, 1970) – Um dos meus favoritos de sempre. Mais ligeiro que os seus
precedentes, já a fazer a transição para os westerns de orientação humorística
dos inícios dos 70s. Mas não é por isso que não deve ser levado a sério. As
interpretações de Franco Nero, Tomas Milian e Jack Palance, dirigidas por
Corbucci, com o som de fundo de Morricone (o tema título é um dos meus
favoritos do género) são irrepreensíveis.
09 – The Mercenary
(Sergio Corbucci, 1968) – Um mercenário Polaco (Franco Nero), alia-se a um
insurgente Mexicano (Tony Jusante) aliam-se contra o mercenário (Jack Palance).
Outra banda sonora clássica pelas mãos do maestro Morricone.
10 – Keoma (Enzo Castellari,
1976) – Um dos últimos grandes filmes do género já em 1976, no declínio do
mesmo, com Franco nero no papel principal. Marcou o fim de uma era no cinema
Italiano.
11 – A Bullet For The
General (Damiano Damiani, 1966) – Gian Maria Volonté é El Chuncho é
contratado para matar um líder da revolução Mexicana.
12 – Run, Man, Run! (Sergio
Sollima, 1968) – Sequela para “The Big Gundown”. Tomas Milian volta como Cuchillo, o revolucionário Mexicano.
13 – Face To Face (Sergio
Sollima, 1967) – Gian Maria Volonté e Tomas Milian num filme que retracta o
impacto da violência nas personagens e as transformações que estas sofrem (em
especial a transformação da personagem de Volonté).
14 – They Call Me Trinity
(Enzo Barboni, 1970) – Poucos spaghetti de orientação humorística foram
produzidos, mas este será com certeza um dos melhores. A coleaboração Terence
Hill / Bud Spencer, que se tornou duradoura, para além dos spaghetti, tornou-se
influência nos spaghetti westerns humorísticos que se seguiram.~
15 – Death Rides A Horse
(Gulio Petroni, 1967) – Temas típicos no género: relação mentor / protegido e vingança.
Lee Van Cleef é o mentor e John Phillip Law o protegido que quer vingar o
assassinato dos seus pais.
MUITO BONS
16 – A Fistful Of Dynamite
(Sergio Leone, 1971) – Mais uma na revolução Mexicana. James Coburn é um
ex-agente da IRA e Rod Steiger é um bandido Mexicano.
17 – A Pistol For Ringo
(Duccio Tessari, 1965) – Os temas principais do género pouco fogem do estabelecido
e, neste caso, é isso mesmo que temos. Um pistoleiro mata 4 homens em defesa
própria, mas é encarcerado na mesma. Depois de um assalto ao banco local, os
assaltantes refugiam-se num rancho próximo. O xerife tem receio de intervir
pois a sua noiva está entre os reféns. Quem é que o poderá ajudar? O nosso
herói irá infiltrar-se no gangue.
18 – Four Of The
Apocalypse (Lucio Fulci, 1975) – Fulci é imediatamente reconhecido pelo seu
trabalho no cinema de terror, mas antes disso foi responsável, já no declínio
do género, por este violento spaghetti western que sobressai dos seus pares da
mesma época.
19 – The Stranger
And The Gunfighter (Antonio Margheriti, 1974) – Alguns questionarão a
inclusão deste título na lista, mas está aqui pelo motivo maior de dar a
conhecer a colaboração com a Shaw
Bros, produtora de Hong Kong, notória pelos filmes de artes marciais (e que
também chegou a fazer uma colaboração com a Britânica Hammer). Um instrutor de
artes marciais (Lieh Lo) tem de recuperar um tesouro (as habituais questões de
honra familiares) e um pistoleiro (Lee Van Cleef) irá ajuda-lo.
20 – Tepepa (Giulio Petroni, 1969) –
Um médico Britânico interfere na disputa entre o guerrilheiro Mexicano Tepapa
(Tomas Milian) e o Coronel Cascorro (Orson Welles).
Críticas e sugestões desse lado?
No
próximo capítulo desta série devo “dar umas facadas” no Giallo!
Fontes e websites interessantes
sobre o género:
1 comentário:
Belas selecções. Este é o meu género preferido, sem dúvida!
Não estarias interessado em participar na nossa rubrica "os spaghettis da minha vida"?
Mais do que saber quais os filmes do género aqui bem recomendas, gostávamos de saber quais aqueles que te enchem as medidas...
Fica aqui o meu email para o caso de estares interessado: pedro.dinis.pereira@gmail.com
--
Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://destilo-odio.tumblr.com/
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